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ONU formaliza envio de 300 observadores

Por DAMASCO
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As demonstrações de rua ganharam importância na Síria com o plano elaborado por Kofi Annan de enviar centenas de observadores estrangeiros ao país para garantir o cumprimento da frágil trégua acertada com Bashar Assad. Ontem, ao mesmo tempo em que os dois lados do conflito tentavam mostrar força e popularidade, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, em Nova York, de forma unânime, o envio de mais 300 observadores militares - qualificando o cessar-fogo de "incompleto".Em meio à busca do regime e da oposição por argumentos que dariam legitimidade a seus movimentos, as acusações se acumulam. Dois atentados suicidas cometidos em janeiro contra instalações das forças de Damasco indicaram o envolvimento de grupos salafistas (radicais sunitas), inspirados na Al-Qaeda: em um raciocínio simples, só esse tipo de grupo é capaz de recrutar suicidas. Há relatos também de degolas - típica execução islâmica de "infiéis" - de policiais e governistas. Assad, assim como Saddam Hussein, no Iraque, Muamar Kadafi, na Líbia, Hosni Mubarak, no Egito e Zine el-Abidine Ben Ali, na Tunísia, pertence a uma linhagem de ditadores secularistas, nacionalistas e estatistas, opostos à influência da religião na política. "Esse é o truque do regime", disse um ex-gerente de banco em Deraa, onde o levante começou há 13 meses. Deraa é considerada um reduto religioso conservador. O ex-gerente, de 34 anos, perguntou aos outros oito homens que conversavam com o repórter quais faziam as cinco orações diárias. Metade disse que não. "Está vendo? Eles não rezam porque, às vezes, estão bebendo com os amigos", disse o ex-gerente. "No entanto, todos nos manifestamos todos os dias contra o regime. A religião não tem nenhuma importância." Eles disseram que concordam com algumas ideias do xeque Adnan Arour - e o que ele prega é a autodefesa. "Não podemos parar ou vão nos pegar um por um." Um slogan disseminado pela Síria, atribuído a Arour, provoca calafrios nas minorias religiosas: "Cristãos para Beirute, alauitas para o caixão". Os alauitas são 12% da população. Os cristãos, 10%. A parcela secularista da oposição tenta afastar a imagem de intolerância. A influência da Irmandade Muçulmana sobre o Conselho Nacional Sírio, a frente anti-Assad, preocupa os opositores.A experiência de revoluções em países muçulmanos mostra que todas as correntes podem se reunir para derrubar o regime, mas depois os islâmicos, mais organizados, capturam o poder. Foi assim no Irã, em 1979, e agora na Tunísia e no Egito. A Líbia ainda não teve eleições, mas a força dos islâmicos é óbvia. Uma parcela importante - e mais silenciosa - dos sírios não gosta de Assad, mas sentiria falta da estabilidade e da segurança que ele representa. "Antes eu não gostava do regime. No entanto, se fosse votar hoje numa eleição secreta, votaria em Assad", disse um dono de farmácia em Damasco. / L.S., COM AP

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