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ONU pede ajuda de EUA e UE para Venezuela

Adotando o modelo que já aplicou no Iêmen, as agências da ONU abandonaram o tom diplomático e passaram a qualificar a situação como 'crise humanitária'

Por Jamil Chade , Correspondente e Genebra 
Atualização:

GENEBRA - Prevendo um aumento do êxodo de venezuelanos em 2019, a ONU pediu ajuda de Europa, EUA e outros países ricos para impedir que o fluxo desestabilize a América do Sul. A avaliação em Genebra é a de que os países sul-americanos já esgotaram seus recursos para lidar com a crise e, diante de milhões de deslocados, o temor é de que a crise e a violência se proliferem. 

Venezuelanos acampam nos arredores de Bogotá, na Colômbia Foto: Mauricio Dueñas Castañeda/EFE

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Adotando o modelo que já aplicou no Iêmen, as agências da ONU abandonaram o tom diplomático e passaram a qualificar a situação como “crise humanitária”. No total, até o fim de 2019, a crise pode atingir 5,4 milhões de pessoas. Desses, mais de 3 milhões seriam migrantes e refugiados venezuelanos, além da população local dos países fronteiriços. 

No dia 14, a entidade anunciará um plano para lidar com o êxodo de refugiados da Venezuela. No evento, a ONU tentará convencer doadores internacionais a resgatar os países da região diante do fluxo sem precedentes. “Esta é uma tempestade perfeita. Ninguém conseguirá dar uma resposta sozinho”, afirmou ao Estado o diretor do Programa Mundial de Alimentação da ONU, David Beasley.

Ele lembra que, há sete meses, alertou em Washington que existia o risco de a situação se deteriorar. "Muita gente não acreditou. Hoje, isso está confirmado", lamentou. Sua esperança é de que o governo americano aumente as doações para a região, principalmente em alimentos. "Se as pessoas tiverem o que comer, pelo menos não continuaram em sua marcha para outros lugares", ponderou.

Para ele, o que preocupa não é apenas a Venezuela. "O que poderemos ver é um cenário com várias tormentas que estão surgindo ao mesmo tempo na América do Sul e América Central", alertou. Beasley indicou que vem pedindo acesso ao território venezuelanos. "Mas não fomos autorizado a entrar na Venezuela", disse. "Isso é uma crise humanitária. As pessoas estão morrendo de fome. Se isso não é uma crise humanitária, então eu não sei o que é uma crise", criticou. 

O temor da ONU é de que, sem recursos internacionais, países como Peru, Colômbia ou mesmo Brasil comece a ver um aprofundamento da reação xenófoba contra a população venezuelana, além da desestabilização de algumas regiões mais pobres. Por isso, uma da estratégias será a de investir em comunidades receptoras desses imigrantes, na esperança de fortalecer escolas, sistemas de saúde e mesmo moradia. 

Ontem, a ONU incluiu pela primeira vez a Venezuela na lista das piores crises humanitárias do mundo. No total, estima-se que, para atender a todas as vítimas em 2019, serão necessários US$ 736 milhões. No mundo, as crises internacionais custarão US$ 21 bilhões. Mas a crise sul-americana já supera o que custará Líbia, Afeganistão ou Iraque.No total, 2,2 milhões de venezuelanos serão atendidos, além de outros 600 mil cidadãos dos países fronteiriços.

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Ao Estado, Filippo Grandi, alto comissário da ONU para Refugiados, confirmou que está preocupado com o impacto que a falta de capacidade dos governos para lidar com a crise possa ter. "Estamos trabalhando com governos na região para lidar com a hostilidade e discriminação", disse. "Por isso é tão importante que esse apelo que vamos lançar. Precisamos lidar com isso de forma rápida para impedir que não se deteriore", completou.

Segundo ele, o pacote de ajuda terá um forte componente de desenvolvimento "para que a Venezuela não se torne um peso muito grande para os países da região". 

O Estado apurou, porém, que o detalhamento desse volume de dinheiro a cada um dos 16 países sul-americanos ainda está sendo finalizado. Mas a divisão do dinheiro respeitará o volume de refugiados em cada um dos locais. Por essa lógica, Colômbia e Peru serão os maiores beneficiados. Até o início de novembro, no Brasil, existiam 85 mil venezuelanos oficialmente registrados. 

Para fontes na entidade, o lançamento do plano na semana que vem marca por nova página na crise, que por anos foi rejeitada como tal por parte do governo venezuelano. Maduro teme que a caracterização da Venezuela como uma "crise humanitária" possa ser a porta que se busca para legitimar uma intervenção. 

Nesta terça-feira 4, foram os europeus que se apressaram em anunciar um cheque inicial de 20 milhões de europeus para lidar com a crise sul-americana, além de um pacote de 35 milhões de euros já reservados para a região. 

"Nosso financiamento irá fortalecer os esforços de dar saúde e alimentos, além de abrigo e melhor qualidade de água", declarou Christos Stylianides, comissário para Assuntos Humanitários de Bruxelas. 

Abertura

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A esperança da ONU, porém, é de que o pacote seja apenas o primeiro passo de uma operação mais ampla que possa também atender aos venezuelanos dentro do país. Por enquanto, apenas US$ 9,5 milhões foram autorizados para programas dentro da Venezuela. "Há uma vontade de aumentar nosso apoio e há um debate ocorrendo sobre isso", disse Mark Lowdock, chefe do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU. "Essa é a primeira vez que incluímos a Venezuela em nossa resposta global. Há um entendimento compartilhado de que mais ajuda da ONU nesses tipos de áreas seria uma coisa muito útil para reduzir o sofrimento das pessoas dentro da Venezuela", disse. 

"O que nós acertamos com o governo da Venezuela é que nós devemos fortalecer nosso trabalho de colaboração e apoio, por exemplo, nas áreas de serviços de saúde e nutrição", disse ele. "Estamos prontos para aumentar o apoio se houver um acordo", completou. 

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