ONU pede exclusão das urnas afegãs com fraudes comprovadas

Comissão anuncia recontagem de locais com 100% de comparecimento ou que candidato teve 95% dos votos

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Atualização:

O enviado especial da ONU no Afeganistão, Kai Eide, fez nesta terça-feira, 8, uma chamada à Comissão Eleitoral (IEC) para que exclua dos resultados finais provisórios as urnas nas quais há "prova de irregularidades". O organismo anunciou uma recontagem parcial das urnas do pleito do dia 20 de agosto para esclarecer as denúncias.

 

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Em comunicado, o chefe da Missão de Assistência no Afeganistão da ONU (Unama), falou sobre a preocupação com as "irregularidades" denunciadas durante o processo eleitoral e pediu à IEC e à Comissão de Queixas que "redobrem seus esforços para assegurar um rigor total em seu trabalho" em todas as fases da apuração. "Isto inclui excluir dos resultados preliminares as urnas nas quais há provas de irregularidades", detalhou.

 

Eide expressou seu desejo que ambos organismos assegurem que "o resultado final reflita fielmente a vontade dos eleitores do Afeganistão". "A integridade destas eleições é de suma importância para o Afeganistão e seus parceiros internacionais", continuou.

 

O atual presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, superou os 50% dos votos, na mais recente parcial das eleições do país, informaram funcionários nesta terça-feira. Com isso, Karzai pode evitar a realização de um segundo turno. O atual líder aparece com 54% dos votos válidos, com quase 92% dos votos apurados. Caso haja segundo turno, ele deve enfrentar o segundo colocado, o ex-ministro de Relações Exteriores Abdullah Abdullah.

 

A comissão não disse quantas urnas serão recontadas, mas afirmou que alguns resultados suspeitos foram identificados nas provícnias de Ghazni, Paktika e Kandahar. Locais de votação que apresentaram 100% de comparecimento ou em que um único candidato recebeu mais de 95% dos votos também precisarão ser recontadas, afirmou o organismo em nota.

 

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A equipe do principal rival de Karzai, Abdullah Abdullah, denunciou ainda que a IEC respaldou resultados em urnas onde o atual presidente obteve todos os sufrágios ou votos arredondados, o que segundo sua opinião alimenta as suspeitas. Eide ressaltou que durante esta semana a IEC deveria completar a apuração e oferecer os resultados provisórios, mas instou ao organismo a não incluir nesta apuração final as urnas nas quais já há prova de fraude.

 

Segundo o calendário da Comissão Eleitoral, após oferecer os resultados finais preliminares - algo que estava previsto para o dia 3 de setembro -, se deveria abrir um período para revisar as impugnações e anunciar então um resultado definitivo.

 

Denúncias

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Partidários do líder afegão, Hamid Karzai, prepararam centenas de zonas eleitorais falsas nas quais ninguém votou, mas tiveram centenas de votos registrados em favor da reeleição do presidente, de acordo com alguns dos principais funcionários do governo e do Ocidente encarregados de observar as eleições do dia 20. As zonas falsas, cujo número chegava a 800, existiam apenas no papel, disse um diplomata ocidental no Afeganistão, sob a condição de não ter o nome publicado. Funcionários locais relataram que centenas - em alguns casos, milhares - de votos para Karzai na eleição do mês passado são provenientes dessas zonas. O padrão foi confirmado por outro funcionário ocidental designado para o Afeganistão.

 

"Acreditamos que cerca de 15% das zonas eleitorais não abriram no dia das eleições", disse o diplomata ocidental. "Mas ainda assim foram registrados nelas milhares de votos para Karzai". Além de criar zona eleitorais falsas, os partidários de Karzai também assumiram o controle de outras 800 secções eleitorais legítimas, usando-as para registrar de forma fraudulenta dezenas de milhares de votos adicionais para o presidente, disseram os funcionários do governo.

 

Como resultado, segundo eles, em algumas províncias a quantidade dos votos para Karzai supera em 10 vezes o número de pessoas que foram às urnas. "É difícil de determinar é a magnitude da fraude", disse o diplomata ocidental.

 

O número cada vez maior de relatos de fraude representa um grave problema para o governo de Barack Obama, que destacou para o Afeganistão um contingente de 68 mil soldados para reverter os avanços dos insurgentes do Taleban. Funcionários americanos esperavam que a eleição ajudasse a afastar os afegãos do Taleban ao oferecer a eles uma maior participação no governo. Em vez disso, Obama enfrenta agora a perspectiva de ser obrigado a defender pelos próximos cinco anos um governo afegão considerado ilegítimo. "Trata-se de um caso de fraude maciça", disse o diplomata.

 

De acordo com funcionários do governo, a maior incidência de fraudes em favor de Karzai deu-se nas áreas de maioria pashtun no leste e no sul do país, nas quais os funcionários dizem que a presença dos eleitores em 20 de agosto foi excepcionalmente baixa. Entre tais regiões inclui-se a província natal de Karzai, Kandahar, onde os resultados preliminares indicam que mais de 350 mil votos foram depositados nas urnas e aguardam contagem. Mas funcionários ocidentais estimam que apenas cerca de 25 mil pessoas tenham de fato votado na região.

 

(Com The New York Times)

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