BISHKEK - As Nações Unidas e a União Europeia pediram nesta terça-feira, 15, ao Quirguistão que não permita que os atuais conflitos étnicos impeçam que um importante referendo constitucional e eleições parlamentares aconteçam.
A empobrecida parte sul do país centro-asiático tem sido convulsionado por dias de motins étnicos contra as minorias usbeques, que deixaram a segunda maior cidade do país, Osh, em ruínas e levou mais de 100.000 usbeques a fugirem em direção à fronteira.
O governo interino do Quirguistão, que assumiu quando o ex-presidente Kurmanbek Bakiyev foi deposto em um levante em abril, tem sido incapaz de pôr fim à violência e acusou a família de Bakiyev de instigá-la para deter um referendo em 27 de junho sobre uma nova Constituição. A maioria dos usbeques apoia o governo interino, enquanto muitos quirguizes no sul têm apoiado Bakiyev.
O Ministério da Saúde disse nesta terça-feira que o número de mortos no confronto chegou a 171, com cerca de 1.800 feridos. Observadores acreditam que os números reais podem ser muito maiores. Muitos refugiados que chegam no Usbequistão têm ferimentos de bala, disseram autoridades.
O representante da ONU, Miroslav Jenca, disse nesta terça-feira em Bishkek que o referendo de 27 de junho as eleições parlamentares em outubro deve ir adiante, apesar da violência étnica.
"O referendo e as eleições devem ser realizadas nas datas anunciados", disse Jenca. O embaixador da Alemanha para o Quirguistão, Holger Green, disse que a UE compartilha dessa posição.
Os conflitos no sul do país começaram na quinta-feira, quando multidões de etnia quiguiz incendiaram casas e empresas de etnia usbeque. Muitas seções de Osh, uma cidade de 250 mil habitantes, foram completamente queimadas desde então, e a violência tem se espalhado em torno das cidades e regiões.
Dezenas de milhares de usbeques tiveram a entrada no Usbequistão permitida, onde estão sendo colocados em alojamentos improvisados em 30 campos diferentes, perto da fronteira. Alguns acampamentos foram centradas na cidade de Andijan.
Jenca disse nesta terça-feira que autoridades do Usbequistão contaram pelo menos 100.000 refugiados, mas não estava claro de que lado da fronteira estavam.
Jallahitdin Jalilatdinov, que dirige o Centro Nacional Usbeque no Quirguistão, disse à Associated Press na segunda-feira que pelo menos 100.000 usbeques estavam esperando para entrar no Usbequistão, enquanto outros 80 mil cruzaram a fronteira. O governo usbeque disse 45.000 já haviam sido registrados.
A administração da cidade de Jalal-Abad no sul do Quirguistão contou 20.000 pessoas concentradas na fronteira do Usbequistão, e espera "muito mais do que isso" na região vizinha Osh, disse o porta-voz Klaya Tapkeyeva. Autoridades de Osh não puderam ser imediatamente contatadas para comentar.
Água e eletricidade em Jalal-Abad foram parcialmente restauradas, e os locais foram cuidadosamente saindo de suas casas para observar os danos, disse Tapkeyeva à AP. As tropas do Ministério do Interior estavam patrulhando a cidade, impedindo qualquer tipo de manifestações públicas.
Tapkeyeva disse que não considera a cidade segura, e disse temer ataques novamente.
A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, entretanto, reconheceu a "estabilidade frágil" no sul, mas pediu maior policiamento para permitir que a ajuda alcance os necessitados.
"Não é fácil entregar a ajuda humanitária por causa da situação de segurança", disse o enviado especial da OSCE Janibek Karibjanov em Bishkek.