ONU prevê novo recorde de cultivo de papoula no Afeganistão

Flor serve de matéria-prima para produção de heroína e de ópio, crescente no país

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Por Agencia Estado
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O cultivo de papoula no Afeganistão deve voltar a aumentar em 2007, um ano depois de a colheita ter batido recorde histórico, informou nesta segunda-feira a Agência de Prevenção ao Crime e ao Tráfico de Drogas das Nações Unidas. A previsão da agência subordinada à ONU expõe a fragilidade da mobilização internacional contra a expansão do mercado de drogas ilícitas em solo afegão. A papoula serve de matéria-prima para o ópio e para a heroína. Sozinho, o Afeganistão abastece 90% do mercado mundial da substância. A Agência de Prevenção ao Crime e ao Tráfico de Drogas da ONU prevê o aumento do cultivo de papoula em uma série de províncias, inclusive em Helmand, no sul do país, onde há constantes episódios de violência entre rebeldes afegãos e soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Num relatório divulgado hoje em Cabul, a agência informou que uma recente sondagem promovida pela ONU constatou evidências consistentes de que o mercado de drogas ilícitas floresceu nas regiões afegãs onde a segurança é mais precária. "A pesquisa de inverno sugere que o cultivo de ópio no Afeganistão em 2007 não ficará abaixo da plantação recorde de 165.000 hectares em 2006", escreveu Antonio Maria Costa, diretor-executivo da agência, no prefácio do documento. No ano passado, o cultivo de papoula em solo afegão aumentou alarmantes em 59%, elevando os temores de que o Afeganistão estaria se transformando em ritmo acelerado em um narco-Estado. Entre 1996 e 2001, período durante o qual a milícia fundamentalista islâmica Taleban dominou a maior parte do Afeganistão, o cultivo de papoula no país foi reduzido a quase zero. Atualmente, autoridades locais acusam milicianos do Taleban de oferecerem proteção aos plantadores do sul do país em troca de participação nos lucros para financiar sua insurgência. De acordo com o levantamento da ONU, havia cultivo de papoula em todas as aldeias visitadas em Helmand e em 93% dos vilarejos de Kandahar. O Taleban possui ampla presença em ambas. O estudo também constatou um aumento acentuado do cultivo em Nangarhar - província divulgada nos últimos anos como exemplo do êxito dos esforços para convencer os fazendeiros a substituir a papoula por cultivos lícitos -, Kunar e Uruzgan. Apesar da tendência de aumento, os pesquisadores da ONU constataram redução das áreas de cultivo dedicadas à papoula nas sete províncias do norte afegão, região onde a violência é menor. O relatório da ONU também aponta para uma "nova e perturbadora tendência" no cultivo de drogas no Afeganistão: o aumento das plantações de maconha. "A última coisa que precisamos é ver o Afeganistão trocar o cultivo de uma droga pelo de outra, ou pior, passar a liderar mundialmente tanto a produção da maconha quanto do ópio", alertou Costa.

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