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ONU recebe relato de novo massacre na Síria e Itamaraty acusa regime em nota

Por Lisandra Paraguassu e BRASÍLIA
Atualização:

O massacre na vila de Tremseh, no norte da Síria, fez o governo brasileiro endurecer de modo inédito a condenação ao governo de Bashar Assad. Em nota, o Itamaraty "condenou veementemente a repressão violenta contra civis desarmados" e cobrou Damasco que lembre os compromissos assumidos com o plano de paz do enviado especial da ONU, Kofi Annan. Ao menos 200 civis teriam sido assassinados por forças regulares da Síria ou milícias leais a Assad no quinto massacre em larga escala em 16 meses de crise. Alguns grupos de oposição, porém, colocam a cifra de mortos em mais de 300. Segundo observadores da ONU, o regime Assad usou helicópteros de ataque, tanques e artilharia pesada contra a vila sunita nas cercanias de Hama. Em seguida, as milícias shabiha ("fantasma", em árabe) teriam ido de casa em casa.Conhecido - e criticado - pela posição excessivamente cautelosa no trato com a ditadura síria, o Brasil cobrou ontem diretamente o regime de Damasco. "O governo brasileiro insta o governo sírio a interromper imediatamente quaisquer ações militares contra civis desarmados e a cooperar com a Missão de Supervisão das Nações Unidas na Síria (UNSMIS) permitindo-lhe acesso irrestrito aos locais conflagrados por conflitos", diz o texto. Na nota anterior, divulgada no início de junho, o Itamaraty "repudiava com veemência" os ataques a civis e "instava" o governo sírio a "cooperar" com a missão. Em outras ocasiões, a diplomacia brasileira "recebeu com indignação" a notícia de mortes de civis, "viu com preocupação" a escalada de violência e o fato do governo sírio não cumprir compromissos assumidos. Nunca, no entanto, usou a condenação ou pediu a suspensão imediata e unilateral dos ataques.Em outubro, quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas estava, pela primeira vez, próximo de votar uma resolução mais dura contra a Síria, o Brasil absteve-se ao ver que Rússia e China vetariam o texto. Mesmo tendo sido um dos principais negociadores e admitindo que a resolução estava longe de "ter dentes", como queriam alguns diplomatas, a decisão da presidente Dilma Rousseff foi a de evitar tomar "lados" para que o País pudesse continuar negociando com todos. A decisão foi duramente criticada por europeus, americanos e árabes. Revolta. A condenação ao massacre de Tremseh foi praticamente unânime entre autoridades internacionais. Conhecido pelas declarações contidas, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, exortou o Conselho de Segurança a "adotar ações coletivas" com "sérias consequências". Assad "não pode receber uma licença para matar". Para a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, o massacre é uma "evidência indiscutível de que Assad deliberadamente assassina civis inocentes". Tradicional aliada de Damasco na ONU, a Rússia pediu uma investigação internacional para apurar a tragédia, mas não culpou Assad pelas mortes. Moscou garante que vetará qualquer resolução que contemple o uso da força contra a Síria.Alvo de ataques frequentes, os monitores da ONU passaram a atuar praticamente apenas em Damasco. Em um comunicado sigiloso ao Conselho de Segurança, a missão de observadores alertou para o risco de mais violência. "A situação na Província de Hama continua altamente volátil e imprevisível. (...) A Força Aérea continua com os ataques em larga escala contra áreas urbanas ao norte de Hama."O massacre em Tremseh é parte de uma ofensiva maior que as forças de Assad vêm conduzindo na Província de Hama, constataram monitores da ONU. Há três dias, Assad recebeu em Damasco o enviado especial das Nações Unidas, Kofi Annan, a quem prometeu dialogar com representantes da oposição.Com o mandato dos observadores da ONU prestes a expirar e o fracasso da missão Annan, potências estão sob pressão para adotar uma nova resolução. Dois rascunhos estão sobre a mesa: um patrocinado pela Grã-Bretanha, que impõe sanções e se enquadra no chamado "capítulo 7" da Carta da ONU - que prevê o uso da força militar; e outro da Rússia, que pede a "imediata implementação" do plano das Nações Unidas, mas não fala em punições. / COM REUTERS e AP

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