ONU retoma negociações de paz na Síria

Apesar de resistência inicial, oposição ao regime de Assad concorda em participar das conversações na Suíça

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Por Jamil Chade , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

Pela primeira vez em mais de dois anos, uma negociação para uma solução política para a guerra na Síria foi retomada. Cercada por incertezas e ameaças, as conversas foram anunciadas nesta sexta-feira na sede da ONU em Genebra. Apesar do boicote inicial da oposição ao regime de Bashar Assad, grupos que combatem o presidente anunciaram que pretendem aderir ao processo.

Staffan de Mistura (E) lidera reunião com representantes do governo Assad em Genebra Foto: AFP / FABRICE COFFRINI

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Por dias, membros da oposição insistiam que não fariam parte da negociação enquanto algumas de suas exigências não fossem atendidas e as resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre questões humanitárias não fossem implementadas. Nos corredores das Nações Unidas, o temor era que, apesar da insistência de americanos e russos pelo processo, a iniciativa fracassasse antes mesmo de começar.

A oposição insiste que, hoje, não combate apenas o Exército de Assad e afirma que os ataques aéreos russos lançados pelo Kremlin desde setembro os teriam enfraquecido. Os grupos queriam garantias de que o bloqueio contra algumas cidades acabaria antes de o processo começar e ajuda humanitária fosse enviada. A oposição reunida na Arábia Saudita, conhecida como Alto-Comitê de Negociações, também exigia o fim dos ataques aéreos.

Sem terem suas demanda atendidas, o grupo rejeitou viajar até Genebra na data marcada pelo mediador da ONU, Staffan de Mistura. Mas o diplomata optou por dar início ao processo mesmo assim, com reuniões com o governo Assad e entidades da sociedade civil.

Negociação. Sua aposta aparentemente deu resultado. Na noite desta desta sexta-feira, uma porta-voz do grupo de oposição anunciou que os rebeldes estavam mudando de posição e viajariam para Genebra amanhã. Mas insistiu que se recusariam a se encontrar diretamente com representantes do governo. De Mistura já previa salas separadas para poder transitar entre as duas e levar recados entre os diferentes negociadores.

“Vamos testar a seriedade do outro lado”, disse a porta-voz da oposição, Farrah el-Atassi. Ela justificou a mudança de posição alegando que suas exigências haviam sido atendidas e garantias haviam sido dadas pelo secretário de Estado americano, John Kerry.

Diplomatas americanos confirmaram ao Estado que Washington fez uma forte pressão para que a oposição mudasse sua posição e, na manhã de ontem, uma reunião telefônica entre Kerry e o chanceler russ, Sergei Lavrov, também destravou o processo. “A melhor forma de discutir a implementação do que a oposição quer é justamente viajando até Genebra”, defendeu De Mistura.

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Trégua. Segundo o representante da ONU, uma prioridade do processo é encontrar alguma forma para que ambos os lados concordem com um cessar-fogo imediato.

Mas a viagem da oposição não representa o fim dos problemas. Grupos curdos que controlam parte do nordeste da Síria foram excluídos da negociação depois que a Turquia vetou a participação do grupo. Segundo os mediadores, porém, eles são alguns dos poucos grupos que podem enfrentar o Estado Islâmico.

Esta é a terceira vez que a ONU lança um processo negociador em cinco anos de guerra. Na última vez, em 2014, o diálogo durou apenas dois dias e fracassou. Agora, De Mistura espera que a mediação esteja concluída em seis meses.

Desde o último fracasso em 2014, o EI ganhou força, passou a controlar um terço do território sírio e declarou um califado, que abrange também largas faixas de território no Iraque.

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