Opinião de Powell prevalece sobre linha-dura

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Num gesto que pode ser o prelúdio para uma ação punitiva contra o governo do Afeganistão, o presidente George W. Bush informou nesta terça-feira os líderes dos dois partidos no Congresso sobre o estado da mobilização das forças americanas e os esforços em outras frentes da guerra contra os terroristas responsáveis pelos ataques do último dia 11 contra o World Trade Center e o Pentágono. ?Creio que os objetivos da guerra estão claro?, disse, ao deixar a Casa Branca, o líder da minoria democrata na Câmara de Representantes, Richard Gephardt. ?De certa maneira, trata-se de responder à guerra de guerrilha com guerra de guerrilha, mas também com esforços financeiros, políticos e diplomáticos?. Gephardt disse que Bush escolheu o caminho certo quando tomou como alvo as células terroristas que, segundo Washington, operam sob a proteção do governo afegão, e não a população civil. Na frente diplomática, a administração americana fez avanços importantes nas últimas 48 horas na articulação de uma coalizão internacional contra o terrorismo. O governo da Arábia Saudita rompeu relações com o regime do Taleban, no Afeganistão, completando o isolamento diplomático do movimento de radicais islâmicos de Cabul. Além da Arábia Saudita, apenas o Paquistão, que já prometeu cooperar com os EUA na luta contra o terrorismo, tinha relações diplomáticas com o regime afegão. Paralelamente, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ofereceu amplo apoio às operações antiterroristas no Afeganistão, incluindo o uso do espaço aéreo russo para missões não militares, participação em ações de busca e resgate, fornecimento de armas a forças contrárias ao Taleban e o apoio tácito ao uso pelos EUA de bases aéreas das ex-repúblicas soviéticas que fazem fronteira, ao norte, com o Afeganistão. Nesta terça-feira, em visita à Casa Branca, o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, confirmou a Bush a disposição de seu país de ?partilhas informações e trabalhar de forma cooperativa? na guerra contra o terrorismo. As declarações de Gephardt e as palavras e ações dos líderes sauditas, russos e japoneses sugerem que o secretário de Estado, Colin Powell, tornou-se a figura mais influente do gabinente americano na definição da estratégia contra o terror e conseguiu congelar, ao menos por ora, as propostas dos setores mais duros da administração, que defendem uma resposta imediata e ampla aos atentados de duas semanas atrás. Essa posição é personificada pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e seu vice, Paul Wolfowitz. As diferenças entre os dois campos ficaram patentes em entrevistas que Rumsfeld e Powell deram neste domingo a redes de televisão. ?A missão define a coalizão?, afirmou o secretário de Defesa, em entrevista à CBS, indicando que Washington deve dar a resposta que achar apropriada e não deixar-se guiar pela opinião ou pela reação internacional porque, como disse o próprio Bush, em seu discurso ao Congresso, na quinta-feira passada, os países do mundo terão de escolher entre apoiar os EUA ou apoiar os terroristas. Entrevistado pouco depois pela NBC, Powell assumiu a posição oposta. Ele afirmou que ?a coalizão internacional é crucial? para a estratégia da guerra contra o terror. ?Temos que lembrar que o ataque foi contra o World Trade Center, ou seja, não foi um ataque contra americanos, mas um ataque também contra judeus, muçulmanos e cidadãos de quase 60 países de todas as partes do mundo, e eles (os terroristas) sabiam o que estavam fazendo.? O secretário de Estado já deixou claro, em várias declarações, que as ações dos EUA devem ser bem medidas e escolhidas em função, também, de preservar e reforçar a aliança internacional contra o terrorismo, que está articulando. Num possível sintoma da perda de espaço dos que defendem uma resposta mais dura e unilateral, um dos mais conhecidos ideólogos da direita, William Kristol, investiu nesta terça-feira contra o secretário de Estado num artigo publicado pelo Washington Post sob o título ?Bush versus Powell?. Kristol, que foi chefe de gabinente do vice-presidente Dan Quayle e é hoje editor do semanário Weekly Standard, revelou a tensão entre os setores mais duros do governo e o secretário de Estado, chamando atenção para as diferenças, reais ou imaginadas, de declarações que ele e Bush fizeram nos últimos dias. O próprio Bush, no entanto, parece ter caminhado no rumo da moderação preferida por seu secretário de Estado desde o belicoso discurso que fez ao Congresso, na semana passada. Em contraste com sua fala aos congressistas, quando deu um ultimato ao Taleban para entregar Bin Laden e outros terroristas ou sofrer as conseqüências, Bush indicou nesta terça-feira que os EUA não pretendem agir diretamente para tirar os fundamentalistas islâmicos do poder em Kabul. ?A missão é encontrar e desalojar os terroristas e submetê-los à justiça?, disse ele nesta terça ao receber o primeiro-ministro japonês. ?A melhor maneira de fazer isso é pedir a cooperação das pessoas dentro do Afeganistão que devem estar cansadas de ter o Taleban e Osama Bin Laden em seu país?. Pouco depois, o porta-voz de Bush, Ari Fleischer, disse que a ação que os EUA estão preparando não tem por objetivo ?substituir um regime por outro?. Fleischer disse que ?o Taleban não será ignorado, porque abriga e apóia o terrorismo?. Mas ele repetiu um argumento de Powell ao dizer que, ? parte do processo leva em conta a (necessidade de manter) a estabilidade da região?.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.