Oposição boliviana acusa governo de Evo de comprar votos

Senado estava paralisado desde a semana passada, depois que oposição tirou seus membros em protesto contra a votação da Constituinte por maioria simples

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Por Agencia Estado
Atualização:

A oposição boliviana acusou o Movimento ao Socialismo (MAS), partido do presidente Evo Morales, de subornar senadores para aprovar a nova lei de terras, na madrugada desta quarta-feira. O senador José Villavicencio, da Unidade Nacional (UN), disse que seu suplente, Abraham Cuéllar, recebeu uma proposta de US$ 100 mil dólares para votar a favor da medida, que amplia o poder do governo para desapropriar terras para a reforma agrária. O deputado Antonio Franco, do Poder Democrático e Social (Podemos), acusou o governo de "compra de votos, de consciência e de princípios". Também foram aprovados pelo Senado 44 contratos firmados em outubro com empresas petrolíferas internacionais. O Senado estava paralisado, pois o Podemos, maior partido oposicionista, havia retirado desde a semana passada seus 13 membros da Casa (que tem 27 cadeiras), em protesto contra a atitude do MAS de impor a maioria simples nas votações dos artigos da Assembléia Constituinte. A Lei Convocatória prevê que as votações na Constituinte sejam por maioria de dois terços. Na madrugada desta quarta, porém, Mario Vargas e Andrés Heredia Guzmán, do Podemos, e Abraham Cuéllar, da UN, compareceram à sessão, contrariando a determinação de seus partidos, e ajudaram a aprovar a lei de terras. O porta-voz de Evo, Alex Contreras, negou que o governo tenha subornado opositores para romper a paralisação do Senado. "Nesse governo acabou a corrupção", disse Contreras. "Não houve, nem haverá sequer um peso" por apoio ao Executivo, garantiu. Cuéllar, da UN, negou ter recebido dinheiro e disse que a denúncia de seu colega de partido era apenas "uma tramóia", exigindo provas de acusação. O MAS de Evo já havia anunciado há alguns dias a possibilidade de convocar os suplentes - caso de Guzmán e Cuéllar - para votar a lei de terras. "A esquerda mostrou um problema de fragmentação e incompetência", disse o economista Gonzálo Chávez, da Universidade Católica da Bolívia. "O que se viu no Senado é inconsistente e asqueroso do ponto de vista da moralidade, da legalidade e do atropelo", disse Jorge Quiroga, o líder do Podemos, afirmando que a "democracia boliviana está em risco". Quiroga visitou dez mulheres constituintes que se declararam na terça-feira em greve de fome para que o MAS mude a regra para votar artigos da Constituinte. Pelo menos 300 pessoas estão em greve de fome no país pela mesma razão. Além das greves de fome, líderes cívicos de oito dos nove departamentos (Estados) bolivianos ameaçam com uma paralisação na sexta-feira. Caso o impasse na Constituinte se mantenha, há a ameaça de uma greve geral no país, a partir do dia 4. Lei de Terras Segundo Miguel Urioste, da Fundación Tierra, com a nova legislação, o Instituto de Terras do país passa a ter a atribuição de verificar quais terras são improdutivas e destiná-las a reforma agrária. Os proprietários que perderem suas terras receberão indenizações. O brasileiro naturalizado boliviano Nilson Medina, um dos maiores produtores de soja da Bolívia, disse ao Grupo Estado não temer pela nova lei. "Nós só esperamos que o presidente Evo não use a terra como instrumento político", pondera. "Ele não tem diálogo conosco, os produtores." A nova lei não altera a regra relativa a terras próximas da fronteira. Segundo a legislação boliviana, produtores estrangeiros não podem ter propriedades em uma faixa de 50 quilômetros da fronteira. Também nesta madrugada, o Senado ratificou um convênio militar entre a Bolívia e a Venezuela que já havia sido aprovado pela Câmara. O senador pelo Podemos Oscar Ortiz disse à Associated Press que o convênio permitira à Venezuela enviar tropas à Bolívia para "imiscuir-se em conflitos internos".

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