23 de novembro de 2012 | 21h55
BUENOS AIRES - Líderes dos partidos da oposição criticaram o governo da presidente argentina, Cristina Kirchner, pela falta de uma estratégia adequada para lidar com os "holdouts", denominação dos credores da dívida pública que se recusaram a participar da reestruturação dos títulos em estado de calote desde dezembro de 2001.
Na quinta-feira, o juiz federal Thomas Griesa, de Nova York, enviou um comunicado à Buenos Aires, ordenando a Argentina a pagar este pequeno grupo de credores - que o governo Kirchner não reconhece - antes de pagar aos demais, donos de títulos reestruturados da dívida, oficialmente reconhecidos pela Casa Rosada.
A decisão de Griesa foi tomada pelas declarações inflamadas de Cristina e do ministro da Economia, Hernán Lorenzino, de que a Argentina nunca acataria as decisões da corte nova-iorquina sobre os credores. "Estas ameaças de desafio não podem ser ignoradas", disse o juiz americano.
Num comunicado conjunto, diversos partidos de centro e centro-direita reunidos no Grupo de Ação Política para a Unidade (Gapu) indicaram que "a determinação (do juiz Griesa) coloca a Argentina em uma situação extremamente difícil. Não existe razão econômica alguma para que nosso país sofra este problema, a não ser pela imprudência verbal e a falta de responsabilidade de alguns líderes políticos".
O deputado Juan Pedro Tunessi, secretário do bloco parlamentar da União Cívica Radical (UCR) sustentou que o governo Kirchner está "avançando na direção de um isolamento internacional permanente".
O "efeito Griesa" foi sentido ontem (sexta-feira) na city financeira portenha, onde o dólar paralelo - principal termômetro das angústias do mercado local - aumentou 5 centavos, encerrando a jornada em 6,46 pesos. O dólar oficial manteve-se em 4,83 pesos.
No entanto, esse aumento seria um dos menores efeitos colaterais, já que no mercado financeiro de Buenos Aires existe o temor de que o custo para o governo de Cristina poderia ser muito mais pesado do que o eventual pagamento de US$ 1,3 bilhões aos "holdouts".
Caso o governo Kirchner não consiga reverter na Justiça americana a determinação de Griesa, poderiam ser reativadas demandas pendentes de US$ 6,2 bilhões por parte de outros credores que nunca aceitaram as reestruturações da dívida de 2005 e 2010. No total, as duas ofertas realizadas nos governos de Néstor e Cristina Kirchner, 92% dos credores aceitaram a troca de títulos, que implicavam valores nominais inferiores aos originais, além de prazos maiores para o pagamento dos bônus. Os 8% dos credores restantes - basicamente os denominados "fundos abutre" - continuaram sua luta nos tribunais internacionais, especialmente em Nova York.
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