22 de outubro de 2015 | 02h01
Analistas acreditam que o pacote faz parte da estratégia chavista de tentar mitigar os efeitos da crise entre a população mais pobre e o funcionalismo - base de seu eleitorado -, de olho nas eleições. Pesquisas de opinião indicam que a popularidade de Maduro está perto da mínima histórica e o desempenho da Mesa de Unidade Democrática (MUD) poderia surpreender nas urnas em 6 de dezembro.
"Hoje, Nicolás demonstrou mais uma vez sua incapacidade em resolver o caos que ele mesmo criou no governo", criticou o líder da oposição e governador de Miranda, Henrique Capriles. "Mais uma vez, ele anunciou que não sabe o que anunciar para corrigir a economia."
O secretário executivo da MUD, Jesús "Chuo" Torrealba, disse que, com um novo limite de preços e lucro para os produtores privados, Maduro está estrangulando a produção de alimentos no país e comparou o líder chavista ao presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, que levou o país africano a um processo hiperinflacionário.
"Dezessete anos de controle burocrático dos preços acabaram com a economia nacional. Agora, Mugabe, quero dizer, Maduro, anuncia o hipercontrole", ironizou Torrealba. "O discurso de ontem não foi para o país, mas para seu grupinho que ainda acredita em suas mentiras. Temos um governo que destruiu a economia nacional e imprime bilhetes como solução."
Controle. O anúncio de Maduro foi feito em seu programa de TV, En Contacto con Maduro, transmitido pela estatal VTV. O novo salário mínimo será de 9.649 bolívares - antes era de 7.422 bolívares -, já a partir de 1.º de novembro - cerca de US$ 1.500 pelo câmbio oficial ou US$ 24,8, de acordo com a cotação do dia no câmbio paralelo.
O presidente prometeu ainda alterar os mecanismos de cálculo do preço justo e criar duas categorias para proteger os cidadãos. Maduro disse que a lei fixa um lucro de 30% para os comerciantes.
Críticas. Analistas de consultorias privadas criticaram as medidas. "A única solução estável para resolver a inflação e a escassez é estimular o investimento, a produção e a oferta de bens. Todo o resto não funcionará. O controle cria mais distorções, você tenta controlar mais e cria um círculo vicioso", disse Luis Vicente León, do instituto Datanálisis. "É do interesse do governo melhorar a imagem negativa provocada pela crise, possivelmente tentem melhorar a distribuição de alimentos nas próximas semanas de olho nas eleições."
Para o economista Luis Oliveros, os efeitos negativos dos anúncios de Maduro serão conhecidos depois da eleição. "A escassez deve se agravar a partir de dezembro", disse.
Na madrugada de ontem, o ministro de Economia, Finanças e Bancos Públicos da Venezuela, Rodolfo Marco Torres, apresentou para a Assembleia Nacional os projetos de lei de orçamento e de endividamento público para 2016.
Os textos não demonstram, porém, variáveis macroeconômicas necessárias para o calculo de receitas e despesas, como a previsão de inflação e a variação do Produto Interno Bruto (PIB). O orçamento trabalha com um barril de petróleo cotado a US$ 40, valor que coincide com o praticado atualmente. Nos últimos anos, o governo estimava para cima o preço do barril. / AFP
Salários
Maduro aumentou pela quarta vez no ano o salário mínimo e os vencimentos de militares e outros funcionários públicos
Lucros
O governo limitou em 30% a margem de lucro permitida para negociação de produtos e serviços em todo o país. A decisão é similar à que deu origem ao "Dakazo", quando lojas da rede Daka foram ocupadas por tropas para que baixassem preços, em 2013
Controle de preços
Maduro anunciou, mas não detalhou, um "novo mecanismo" para a Lei de Preços Justos, que define tabelamentos e outros pontos relativos à venda de produtos considerados essenciais. O tabelamento tem causado escassez nas prateleiras e alimenta um amplo mercado paralelo
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