
28 de maio de 2020 | 11h33
HONG KONG - A oposição pró-democracia de Hong Kong lamentou nesta quinta-feira, 28, que o Legislativo chinês tenha aprovado uma lei de segurança nacional para o território e assegurou que a medida é o "fim" da cidade semi-autônoma.
Segundo a televisão pública RTHK, os deputados da oposição "pandemocrata" consideram a aprovação da lei de segurança nacional na Assembleia Nacional Popular (ANP) como uma forma de relegar Hong Kong ao status de qualquer outra cidade da China continental.
China aprova lei de segurança de Hong Kong, comprometendo o status da cidade como centro financeiro
A lei é a ação mais ousada de Pequim para minar a autonomia de Hong Kong e é uma resposta direta aos protestos pró-democracia que eclodiram na antiga colônia britânica no ano passado. Tais protestos se enquadram na categoria de atividades separatistas e subversão do poder do Estado sob a nova lei.
Após 23 anos de um acordo de 50 anos entre a Grã-Bretanha e a China, segundo o qual Hong Kong deveria gozar de um alto nível de autonomia, Pequim está tentando trazer a cidade sob seu controle total. De acordo com a Lei Básica, regramento equivalente ao que seria a constituição de Hong Kong, o território deve promulgar suas próprias leis de proteção contra traição, secessão, sedição e subversão e impedir que entidades políticas locais desenvolvam laços com organizações estrangeiras.
A falta de tais leis - uma tentativa das autoridades de Hong Kong de introduzi-las em 2003 fracassou após uma enorme reação pública - agora está sendo usada como justificativa para as ações de Pequim.
No último dia da sessão anual da ANP, o órgão controlado pelo Partido Comunista (PCC), 2.878 deputados votaram a favor e apenas um contra, com seis abstenções. "Dessas 2.878 pessoas, quantas nunca estiveram Hong Kong? Quantos não viram a situação em Hong Kong?", perguntou o líder do Partido Cívico, Alvin Leung.
Claudia Mo, do grupo Hong Kong First, afirmou que é "o começo de uma era triste e traumatizante para Hong Kong. "Eles roubaram nossas almas, nossos valores que protegemos todos esses anos: o estado de direito, os direitos humanos".
Outro legislador, Fernando Cheung, do Partido Trabalhista, afirmou que é o fim do princípio de 'um país, dois sistemas', que defende a autonomia de Hong Kong contra o restante da China. Ele disse que a cidade agora está entrando em um "período sombrio" e no modelo "um país, um sistema".
A organização pró-democracia Demosisto acusou Pequim de "liquidar Hong Kong ", uma vez que a aprovação da lei provavelmente significará que países como os Estados Unidos vão retirar o status de prioridade econômica que deu tratamento diferenciado à cidade em comparação com outras regiões da China.
O líder do Demosisto, Joshua Wong, previu que Washington aplicará sanções econômicas parciais nas próximas semanas, algo que descreveu como "um passo trágico, mas necessário".
O secretário de Estado Mike Pompeo sinalizou quarta-feira, 27, que Washington estava se preparando para tirar Hong Kong do status especial que permitiu aos Estados Unidos tratá-lo como uma entidade distinta da China. "Hoje, relatei ao Congresso que Hong Kong não é mais autônoma da China, dados os últimos acontecimentos", tuitou Pompeo.
Enquanto isso, de acordo com autoridades de Pequim, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, assegurou que a decisão mostra "como o país está preocupado com a região autônoma especial de Hong Kong". Ela reiterou que a nova lei só punirá "uma minoria pequena de criminosos" e não afetará direitos e liberdades de Hong Kong.
Manifestantes em Hong Kong desafiaram as ordens para não se reunir nesta semana, indo às ruas e enfrentando a polícia de choque para se manifestar contra o plano do governo chinês. Centenas de pessoas, incluindo crianças em idade escolar e outras pessoas que simplesmente gritavam slogans, foram detidas ou presas. / The Washington Post, EFE e The New York Times
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