Oposição do Egito afirma que houve fraude em referendo

Frente de Salvação Nacional exige investigação.

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Por BBC Brasil
Atualização:

O principal grupo de oposição do Egito exigiu uma investigação do referendo que aprovou a polêmica Constituição do país. Resultados não oficiais anunciados pela imprensa estatal egípcia após duas rodadas de votação, concluídas no sábado, sugerem que cerca de 63% dos eleitores aprovaram a nova Carta. O comparecimento foi estimado em 30% dos votantes em um total de cerca de 25 milhões de egípcios aptos a votar. Mas, a Frente de Salvação Nacional pediu que a comissão eleitoral do país investigasse "irregularidades" no referendo que, de acordo com os opositores, foi marcado por "fraudes e violações". Entre os problemas apontados pelo grupo estão zonas eleitorais abrindo muito tarde e islamistas tentando influenciar os eleitores. "Estamos pedindo que a comissão investigue as irregularidades antes do anúncio dos resultados oficiais", afirmou o porta-voz da Frente de Salvação Nacional Amr Hamzawy, em uma entrevista coletiva no Cairo. Outro porta-voz do grupo, Khaled Daoud, disse à BBC que a Frente de Salvação Nacional não vai contestar o resultado, que acredita que seria mesmo o "sim" à nova Carta, mas, segundo ele, ocorreram "fraudes graves". O grupo reclamou que não havia a supervisão jurídica necessária para o referendo, já que muitos juízes anunciaram um boicote à votação. Os críticos da proposta de Constituição dizem que o documento, que gerou fortes protestos populares, trai os ideais das revolução que derrubou o ex-presidente Hosni Mubarak, no início do ano passado. Os simpatizantes do presidente Mohammed Morsi, em sua maioria muçulmanos, afirmam que a nova Constituição garantirá a democracia e ajudará a manter a estabilidade. Os resultados oficiais só devem ser divulgados nesta segunda-feira, após a análise de possíveis apelos. Se a aprovação da Constituição for confirmada, novas eleições parlamentares deverão ocorrer em três meses. 'Mais uma batalha' Antes do anúncio dos resultados não oficiais, grupos de oposição já tinham admitido que o "sim" venceria, mas acrescentaram que continuariam com a campanha contra a proposta da Constituição. "O referendo não é o fim do caminho. É apenas mais uma batalha. Vamos continuar lutando pelo povo egípcio", afirmou Abdel Ghaffer Shokr, membro da Frente de Salvação Nacional, à agência de notícias France Presse. Entre os que rejeitam os termos da Carta, o temor é de excessivo poder aos islamitas, em detrimento de cristãos e seculares. Muitos alegam também que o texto não oferece proteções às liberdades religiosa e de expressão e respeito aos direitos humanos, motivações que estiveram por trás da derrubada de Mubarak. Além disso, grupos de direitos humanos dizem que falta um compromisso claro em promover a igualdade entre homens e mulheres, o fim das prisões arbitrárias e da tortura. Muitos temem que, mesmo terminado o pleito, apoiadores e detratores da Irmandade Muçulmana protagonizem novas cenas de violência. A última onda de violência no Egito começou depois que o presidente Mohammed Morsi tirou, através de um decreto, o poder do Judiciário de desafiar suas decisões, no dia 22 de novembro. Depois de muita revolta, o presidente revogou a maior parte do decreto, mas não recuou nos termos da proposta da Constituição. O texto foi aprovado às pressas por uma Assembleia Constituinte dominada por islamitas. Oposição e partidários de Morsi organizaram grandes manifestações que, em alguns casos, acabaram em confrontos violentos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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