Oposição egípcia quer boicote a referendo constitucional

Grupo Irmandade Muçulmana denuncia emendas como um mecanismo para limitar a liberdade e perpetuar o presidente Hosni Mubarak, aliado dos EUA, no poder

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Por Agencia Estado
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A Irmandade Muçulmana, principal grupo de oposição ao governo egípcio, recomenda a seus seguidores que boicotem o referendo nacional sobre a nova lei eleitoral previsto para a próxima semana. "Decidimos boicotar o referendo", declarou Mohammed Habib, vice-líder da Irmandade Muçulmana, durante conversa com a Associated Press logo depois de uma reunião de cúpula da organização religiosa proscrita. A Irmandade Muçulmana e outros grupos de oposição denunciam as emendas à Constituição como mecanismos para limitar a liberdade e perpetuar artificialmente no poder o presidente Hosni Mubarak. O pacote de 34 emendas foi aprovado na segunda-feira, 19, com 315 votos a favor e 113 contra. As mudanças ocorrem em um momento no qual os Estados Unidos reduzem a pressão sobre o aliado Mubarak para ampliar a democracia no Egito. Uma das emendas aprovadas na última segunda proíbe a formação de partidos com base em religião, impedindo a Irmandade Muçulmana, que já é proscrita, de transformar-se em partido político. Outra emenda exige que qualquer candidato a presidente pertença a um partido político reconhecido com pelo menos 3% das cadeiras do Parlamento, garantindo que candidatos independentes fiquem fora da disputa. Os candidatos da Irmandade Muçulmana ao Parlamento normalmente concorrem como independentes. A oposição também denuncia um dispositivo que cria comissões independentes para monitorar as eleições, reduzindo a participação dos juízes eleitorais na fiscalização do pleito. Nas eleições gerais de 2005, juízes pró-reforma denunciaram um amplo esquema de fraude em favor do governo. Outra emenda concede ao presidente o poder "encaminhar qualquer ato de terrorismo às autoridades competentes". Segundo a oposição, isso significa que o presidente pode denunciar suspeitos a cortes marciais quando bem entender. Segundo a versão do governo e de seus aliados, as emendas fazem parte de uma reforma com o objetivo de consolidar a democracia no Egito, governado com mão de ferro por Mubarak há mais de um quarto de século.

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