Oposição faz greve por renúncia de Chávez ou eleições

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Por Agencia Estado
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A Venezuela, totalmente dividida e mergulhada em uma crise econômica sem precedentes, vai enfrentar a partir da zero hora de amanhã a terceira greve geral em menos de um ano. O protesto foi convocado pelos partidos de oposição, que exigem a renúncia do presidente Hugo Chávez ou a convocação de eleições antecipadas. Logo de manhã neste domingo, o presidente venezuelano desafiou os grevistas em seu programa de rádio "Alô Presidente" ao afirmar que a paralisação, antes mesmo de começar, estava derrotada, já que nem mesmo os empregados da PDVSA (Petróleos de Venezuela) e nem os funcionários públicos adeririam à convocação dos protestos contra ele. "A greve está sendo convocada por um grupo de desesperados, uma minoria que defende seu privilégios", discursou Chávez no rádio. Apesar disso, o governo decidiu redobrar o contingente de soldados do Exército, de 1,2 mil para 2,4 mil, para vigiar as ruas de Caracas a partir das 6h00 desta segunda-feira. O sucesso da paralisação total do país, no entanto, é incerto, apesar de ter sido convocada pela Coordenação Democrática, que reúne todos os partidos e organizações de oposição, sindicatos e associações empresariais. Chávez contará com o "apoio" dos poderosos sindicatos dos petroleiros e do transporte de coletivos, setores considerados chave para o êxito do protesto. O governo, que considerou o ultimato da oposição antidemocrático, conseguiu também o apoio de alguns setores empresariais, principalmente aqueles ligados à pequena e média indústria, favorecidos pelas medidas protecionistas impostas pelo presidente venezuelano. "Não vou morrer, não vou embora do país e nem vou ser destituído", desafiou Chávez no programa de rádio. Em comunicado, o Pacto Democrático pela Unidade e a Reconstrução Nacional afirma, no entanto, que a Venezuela se encontra em uma situação de ingovernabilidade política, social, econômica e institucional devido à ineficiência, corrupção e populismo do regime autoritário de Chávez. A Fedecámaras, uma espécie de CNI venezuelana, também divulgou um comunicado no qual informa as "24 razões pelas quais as empresas vão aderir à greve". Entre elas, a entidade cita o empobrecimento da população, a voracidade fiscal do governo, o desemprego, o fechamento de empresas e, finalmente, o terrorismo de Estado. "Trata-se de um terrorismo que tem como objetivo que o Estado tome o controle de toda a economia, dos meios de comunicação, do sistema financeiro e da sociedade em geral", afirma o documento da Fedecámaras. Segundo a entidade, o Estado de direito é violado a cada dia e não existe mais independência nos poderes públicos, o que afeta o setor privado. "Se a isso somarmos o decreto de intervenção das empresas, a situação fica mais grave ainda", diz a entidade empresarial venezuelana. Os partidos políticos, por sua vez, querem a convocação imediata de eleições. Chávez, com a sua peculiar retórica, exortou os venezuelanos a um momento de reflexão e pediu para que não se deixem manipular por ações que, aparentemente, são pacíficas , mas deixaxm entrever, de acordo com ele, "uma carta escondida de violência", como no dia 11 de abril deste ano. A data à qual o presidente se referiu foi quando, em decorrência também de uma greve geral convocada pela oposição, acabou deposto do governo. Dois dias depois, porém o golpe de Estado contra Chávez havia fracassado porque os promotores acabaram entrando em colisão. Assim, a direita e a ala vingativa desse movimento se impôs e acabou redigindo o decreto-lei que arrasou com a Constituição Bolivariana (a mais recente do país) e determinou o afastamento de militares moderados e do principal sindicato dos trabalhadores que havia apoiado a greve. Pedro Carmona, o empresário que ficou à frente do governo provisório por algumas horas e que colocou a Venezuela quase à beira da anarquia e da guerra civil, foi preso.

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