01 de setembro de 2016 | 05h00
CARACAS - Opositores do governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, devem tomar hoje as ruas de Caracas. A coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) espera um milhão de pessoas na capital venezuelana. O chavismo, que convocou uma marcha paralela, disse que não permitirá o protesto e acusou a MUD de tentar provocar violência.
O ato pede que o referendo revogatório do mandato de Maduro ocorra ainda este ano – única possibilidade prevista em lei para que, em caso de vitória opositora, ele seja seguido de novas eleições. Nos últimos dias, o governo tem prendido e revistado líderes opositores, especialmente do partido Voluntad Popular, de Leopoldo López – na prisão desde os últimos grandes protestos de rua da oposição, em 2014. Além disso, jornalistas estrangeiros têm sido proibidos de entrar no país para cobrir a manifestação.
Oficiais da Guarda Nacional e da Polícia Nacional Bolivariana ocuparam ontem pontos estratégicos de Caracas enquanto centenas de manifestantes que há uma semana saíram de Estados mais afastados do país chegaram à capital para “a tomada de Caracas”.
“Toda a Venezuela está se mobilizando pelo direito ao voto e para derrotar a estratégia do medo e da chantagem, com o objetivo de fazer a mobilização política mais importante da história recente”, disse o secretário executivo da MUD, Jesús “Chuo” Torrealba.
Do lado chavista, a estratégia do governo é tentar impedir o acesso à capital. “Não nos provoquem. Vamos fechar Caracas. Ninguém vai entrar e ninguém vai sair”, disse o deputado Diosdado Cabello, número dois do chavismo.
Na terça-feira, Maduro acusou, sem oferecer provas, a MUD de planejar um golpe de Estado contra ele e ameaçou prender mais opositores caso a manifestação se torne violenta. A ONG Foro Penal Venezuelano – ligada à MUD – informou que foram registradas 30 detenções de opositores no país nos últimos dois dias.
O chavismo proibiu o uso de drones e pequenas aeronaves em Caracas, em uma aparente tentativa de evitar o registro de imagens aéreas das manifestações. Jornalistas da Al-Jazeera, da rádio americana NPR, da TV Caracol da Colômbia, e do jornal francês Le Monde, tiveram a entrada vetada no Aeroporto Internacional Simón Bolívar.
O líder opositor Henrique Capriles afirmou que o governo está desesperado e tem medo do impacto do protesto. “Não queremos guerra nem violência, queremos uma data para o referendo”, disse Lilian Tintori, mulher de López.
As advertências e acusações de Maduro foram feitas depois que centenas de chavistas fizeram uma marcha para demonstrar “unidade” entre os partidários da revolução bolivariana.
A mobilização convocada pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) congregou seus partidários para “tomar as ruas” do país frente ao suposto plano de golpe de Estado contra Maduro.
A Conferência Episcopal da Venezuela (CEV) também se pronunciou hoje e pediu que seja garantida a segurança dos manifestantes.
“Trata-se do exercício de um legítimo direito estabelecido na Constituição e no ordenamento jurídico da Venezuela. Por isso, ditas mobilizações, concentrações e atividades de caráter político têm que ser respeitadas e amparadas pelos organismos do Estado”, destacou o episcopado em comunicado. / AFP e EFE
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