Oposição reage à ação de Cristina contra o ''Clarín''

Cassação de licença para fornecer serviço de internet acirra a disputa política com os Kirchners e prejudica 1 milhão de clientes

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Por Ariel Palacios
Atualização:

     

 

Ofensiva. Agentes no prédio do 'Clarín': governo agora se volta para fornecedor de papel

 

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  Líderes da oposição à presidente argentina, Cristina Kirchner, e associações de defesa dos consumidores criticaram ontem a decisão do governo de suspender a licença do Grupo Clarín para operar a empresa Fibertel, que atende um de cada quatro usuários de internet na Argentina.

A líder da Coalizão Cívica, deputada Elisa Carrió, disse que o confronto do governo com o Clarín "é um instrumento para privar a sociedade de uma imprensa livre". Segundo Elisa, o governo Kirchner pretende "silenciar todas as vozes opositoras e silenciar a sociedade".

A Cablevisión, empresa do holding Clarín que controla a Fibertel, afirmou ontem que recorrerá à Justiça para impedir o que denominou de "medida ilegal e arbitrária". Segundo os diretores da empresa, a medida "é parte de uma escalada cada vez mais totalitária", pois pretende impedir que a população "escolha livremente seu provedor de internet".

O ministro do Planejamento, Julio De Vido, braço direito da presidente Cristina no setor econômico, sustentou que a licença da Fibertel já havia caducado. "A Fibertel já não existe", disse.

A medida deixará mais de um milhão de usuários de internet - o equivalente a 25% dos clientes argentinos - sem sua atual conexão daqui a três meses. Além disso, os usuários perderiam suas contas de mail registradas na Fibertel.

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Os usuários contam com um prazo de 90 dias para mudar de servidor. Essa determinação do governo favorece dois pesos pesados multinacionais, a Telefónica (da Espanha), que já conta com 1,4 milhão de usuários, e a Telecom (italiana, com presença de empresários argentinos alinhados com o casal Kirchner), que possui 1,2 milhão de clientes.

O ex-secretário de Comunicações, Enoch Aguiar, declarou que a medida dos Kirchners "é um magnífico presente às companhias telefônicas", que ficariam com a fatia que o Grupo Clarín teria de abandonar.

Ontem, o governo negou que as empresas telefônicas serão beneficiadas com o fim da licença da Fibertel. Segundo o presidente da Comissão Nacional de Comunicações, Ceferino Namuncurá, na Argentina existem "mais de 200 operadores de internet" para escolher.

A Telefónica rapidamente anunciou que, com tempo necessário, poderia absorver os clientes da Fibertel. A Telecom não se pronunciou sobre o caso.

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Coincidentemente, enquanto o governo anunciava o fim da licença para a Fibertel, a presidente Cristina reunia-se com executivos da empresa Direct TV, da americana Liberty Media, na Casa Rosada, o palácio presidencial. No encontro, a Direct TV anunciou investimentos para serviços de internet. A Fibertel teve um faturamento de US$ 207 milhões no ano passado, volume que representa 20% do total da Cablevisión, que, por seu lado, responde por 60% do faturamento do Grupo Clarín.

Enquanto isso, o governo Kirchner continua sua ofensiva contra o Grupo Clarín em outras frentes. Esse é o caso da empresa Papel Prensa, responsável pelo abastecimento de quase todo o papel de jornal consumido no país. O Grupo Clarín possui 49% das ações. O jornal La Nación tem 22,49% e o Estado, 27.46%.

O governo diz que a empresa foi comprada durante a ditadura militar (1976-1983) quando os donos da companhia estavam sob tortura. Os acionistas privados argumentam que a empresa foi comprada legalmente e dizem que os donos de Papel Prensa foram detidos e torturados meses após a operação de venda.

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