Oposição síria denuncia execução de pelo menos 320 civis no sul de Damasco

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Por BEIRUTE e
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Pelo menos 320 cadáveres encontrados no fim de semana em Daraya, na periferia de Damasco, foram enterrados ontem em covas coletivas. Segundo opositores de Bashar Assad - que reapareceu também ontem para reafirmar o compromisso de "arrasar a qualquer preço" a rebelião -, os mortos foram vítimas de tropas do regime que tentam livrar a capital de focos rebeldes. Alguns corpos apresentavam sinais de execução. Conforme ativistas, cerca de 122 vítimas do ataque a Daraya, a 6 quilômetros do centro de Damasco, foram mortas por disparos a curta distância. "Muitas delas estavam algemadas", disse Abu Kinan, ativista em Daraya. "Podemos afirmar que houve uma execução em massa". Pelo menos quatro crianças estão entre as vítimas. O relato da matança foi divulgado enquanto o chefe da equipe de observadores da ONU na Síria, general Babacar Gaye, deixava o país, encerrando a conturbada missão iniciada em abril. No início deste mês, a ONU nomeou Lakhdar Brahimi como novo enviado especial à Síria, encarregado de intermediar o fim do conflito - perspectiva cada vez mais improvável porque os combatentes intensificaram os ataques e seus patronos internacionais não chegam a um acordo. O vice-chanceler britânico, Alistair Burt, afirmou que o massacre põe o nível de atrocidade "em uma nova escala". "As tropas mataram a sangue-frio", afirmou Abu Ahmad, um morador de Daraya. Ahmad relatou ter visto dezenas de pessoas mortas a golpes de baionetas ou tiros de fuzis Kalashnikov. "O regime matou famílias inteiras, pais, mães e seus filhos. Eles simplesmente os mataram, sem motivo", disse. Moradores relataram que o exército sírio isolou a região antes de agir, impedindo que civis fugissem. Após bloquearem todas as saídas, as tropas começaram os ataques de artilharia e as invasões de casas. A operação militar começou na semana passada. Além dos bloqueios nas estradas, as tropas também cortaram a eletricidade e as conexões à internet. Horas depois de as imagens dos corpos surgirem ontem, Assad quebrou o silêncio de uma semana para dizer que "arrasará a qualquer preço o complô" na Síria.Os ataques ao bairro aumentaram desde que os rebeldes começaram a se retirar da área a fim de proteger os civis, disseram militantes. Um vídeo postado na internet mostra fileiras de cadáveres, em geral homens, envolvidos em cobertores coloridos na mesquita Abu Suleiman al-Durani. Os mortos no templo, cerca de 150, teriam sido executados no sótão, onde se escondiam.Uma mulher vestindo luto contou ontem que seu filho tentou sair da região na sexta-feira, mas foi impedido. "Eles disseram 'volte para sua cidade e morra lá'". O corpo dele estava na mesquita. Ativistas temem que o número de mortos no massacre possa subir. De acordo com comitês locais de rebeldes, o total de detidos pelo regime na cidade chegou a 1.755, indicando que centenas ainda estão desaparecidos.

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