Oposição teme Evo na Presidência da Bolívia até 2018

Partidos governistas planejam a eleição de Evo na corrida antecipada de 2008

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Por Agencia Estado
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O partido do presidente da Bolívia, Evo Morales, quer que a Assembléia Constituinte permita a reeleição do chefe de Estado para um segundo mandato consecutivo, a contar das próximas eleições. A manobra permitiria ao presidente prorrogar seu governo até 2018, segundo teme a oposição. O deputado René Navarro, do partido governista Movimento ao Socialismo (MAS), explicou nesta sexta-feira, 23, que o projeto prevê reeleições no Executivo, no Legislativo, nos governos regionais e nas prefeituras. "É uma proposta geral para dar ao presidente a alternativa de ir à reeleição", disse. A denúncia da oposição afirma que as eventuais eleições extraordinárias de 2008, anunciadas por Morales recentemente, marcariam o início da lei de reeleição apoiada na nova Constituição. Dessa forma, as eleições de 2005 não valeriam mais. Morales, que cumpre um mandato até 2011, anunciou na semana passada que quer antecipar as próximas eleições, para que entre em vigor rapidamente a nova Constituição, cujo projeto deverá ser terminado em agosto, mesmo que os redatores não tenham escrito um artigo sequer nos oito meses em que estiveram trabalhando. De acordo com os políticos do MAS, o mandato de cinco anos do próximo presidente seria contado a partir de 2008, tendo em vista que o atual mandato de Morales seria interrompido no mesmo ano. O deputado do partido governista Carlos Romero afirmou que "em 2008 não teríamos uma reeleição, mas uma nova eleição". Oposição Líderes da oposição qualificaram o anúncio das novas eleições como "uma cortina contra humilhações" para encobrir os escândalos de corrupção e os erros e supostos crimes cometidos com 44 contratos petroleiros firmados com 12 multinacionais em outubro de 2006. O líder dos deputados da aliança opositora Poder Democrático e Social (Podemos, de direita), Rubén Dario Cuéllar, disse que o anúncio da reeleição prova que o MAS não busca um pacto social na Assembléia. De acordo com Cuéllar, o que se procura é "um instrumento pelo qual Morales possa se perpetuar no poder, a exemplo do presidente venezuelano, Hugo Chavez". Cuéllar acredita que a proposta do MAS possa até ganhar apoio no Congresso, mas que dificilmente seja aprovada com os 170 votos necessários dentre os 225 congressistas. "Podemos exigir que Morales renuncie seis meses antes do final de seu mandato para que ele possa lutar na corrida presidencial de 2008." Sobre a reeleição, a aliança conservadora afirmou que pretende lutar para manter a lei atual, na qual é possível concorrer a uma reeleição, porém, não consecutiva. Morales foi eleito em 2005 com 53,7% dos votos e ratificou a maioria nas eleições para o congresso com 50,7%. Perseguição da mídia O presidente disse que se sente "perseguido" por um setor dos meios de comunicação da Bolívia, que são controlados por grupos conservadores contrários a seu plano de reformas políticas e econômicas. Morales fez uma surpreendente porém reiterada alusão ao trabalho da imprensa ao encerrar seu discurso no ato central do "Dia do Mar", comemoração anual em que a Bolívia reclama a devolução de uma saída ao oceano perdida em uma guerra com o Chile no século 19. "Eu me sinto perseguido permanentemente pelos meios de comunicação. Não importa, se suportamos por mais de 500 anos e agüentamos com muita paciência, vamos agüentar em nosso mandato essas perseguições", disse o presidente. Os meios impressos e eletrônicos bolivianos são controlados em sua maioria por grupos empresariais e, para resistir, o governo de Morales impulsiona a criação da imprensa alternativa, a começar por uma rede de rádios comunitárias que já tem duas dezenas de rádios. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) demonstrou recentemente preocupação com as freqüentes queixas de Morales contra o trabalho de alguns meios, que criticam quase que diariamente a gestão governamental. O presidente destacou na sexta-feira que no "momento de mudanças" que a Bolívia vive, o trabalho de alguns jornalistas "que permanentemente observam com razão" bate de frente com o de outros que cometem "algumas acusações exageradas, perseguições".

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