PUBLICIDADE

Oposicionistas iraquianos reclamam de plano dos EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

Os Estados Unidos informaram à oposição iraquiana que planejam instalar uma administração militar dos EUA e manter em seus cargos muitos funcionários píblicos de baixa hierarquia do partido de Saddam Hussein, depois que a liderança do Iraque cair, disse um destacado oposicionista. Enviados dos EUA revelaram a proposta durante um encontro em Ancara, Turquia, na semana passada, adiantando que os oposicionistas deviam ou "aceitá-la ou não ousar contestá-la", relatou Kanan Makiya, um professor da Universidade de Brandeis e um líder do oposicionista Congresso Nacional Iraquiano. O plano foi apresentado pelo enviado americano Zalmay Khalilzad, pelo funcionário do Departamento de Estado David Pearce e oficiais da Casa Branca e do Pentágono, segundo Makiya e um dirigente oposicionista que participou do encontro. Makiya não esteve presente, mas foi informado sobre a reunião por pessoas que dela participaram. "Todas as figuras da oposição iraquiana foram completamente marginalizadas", contou Makiya. "Este plano fará com que a oposição iraquiana se transforme em oponente dos Estados Unidos". Em Londres, algumas figuras da oposição iraquiana duvidaram do relato de Makiya, dizendo que eles não acreditam que os EUA tenham finalizado qualquer proposta. "Não é característica dos americanos agir dessa forma", opinou Sharif Ali, um integrante do Congresso Nacional Iraquiano. "Os Estados Unidos têm sido extremamente ambíguos sobre o que virá depois da guerra, portanto seria estranho que agora eles fossem entrar em tais detalhes." Sharif não participou do encontro em Ancara. Na terça-feira, duas altas autoridades dos EUA discutiram idéias gerais de como eles fariam a transição de uma administração militar americana para um governo civil iraquiano, depois da queda de Saddam. Durante testemunho ao Comitê de Relações Exteriores do Senado, Marc Grossman, subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, disse que os Estados Unidos vão permanecer no Iraque "o quanto for necessário", mas "nem um dia a mais". Ele e Douglas Feith, subsecretário de Defesa para Política, afirmou que entre os objetivos dos EUA estão a preservação da integridade territorial do Iraque e conseguir que iraquianos, dentro e fora do país, trabalhem unidos pelo estabelecimento de um governo que represente os vários grupos étnicos e religiosos. Mas figuras da oposição dentro do congresso iraquiano temem que os planos dos EUA, como relatados por Makiya, venham a efetivamente marginalizar um comitê de trabalho de 65 membros da oposição, formado durante uma conferência em Londres, no mês passado. Um encontro longamente planejado do comitê, que ocorreria neste sábado na parte autônoma setentrional do Iraque, foi postergado devido a preocupações de segurança, disse Barham Salih, o primeiro-ministro da União Patriótica do Curdistão, baseada em Sulaymaniyah. O encontro será agora realizado entre 17 e 20 de fevereiro nas cidades de Irbil e Salahuddin, segundo ele. O comitê foi formado para servir de base para um governo de transição. Entretanto, Makiya disse que os militares dos EUA vão controlar ministérios durante o período de transição, com os iraquianos sendo relegados a papéis num conselho consultivo. Pela proposta dos EUA, membros de baixo escalão do Partido Baath, de Saddam, seriam mantidos em seus cargos na burocracia iraquiana, disse uma outra figura da oposição que pediu para não ser identificada. "Essa política foi elaborada por burocratas e tecnocratas que não sabem nada sobre a realidade iraquiana", avaliou Makiya. "Ela iria manter intacta a estrutura de poder do Baath". Líderes de oposição da comunidade étnica curda, entretanto, indicaram não estar tão perturbados com o papel dos EUA quanto Makiya. Isso indica uma possível disputa entre curdos e árabes no movimento iraquiano contra Saddam. Hoshyar Zebari, chefe de relações exteriores do Partido Democrático do Curdistão, considerou que a ocupação militar americana do Iraque seria um passo lógico. "É lógico que isso ocorrerá se os EUA forem promover essa campanha e colocarem sua credibilidade e soldados na linha de frente", explicou Zebari, que compareceu ao encontro em Ancara.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.