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Opositor argentino diz que Dilma terá mais diálogo com ele que com Cristina

Em entrevista a jornalistas estrangeiros, Mauricio Macri volta a dizer que Brasil será primeiro destino de viagem oficial caso vença o 2º turno no dia 22 contra o governista Daniel Scioli

Por Rodrigo CavalheiroCORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:
  Foto: JUAN MABROMATA | AFP

O candidato conservador à presidência argentina, Mauricio Macri, esbanjou confiança nesta terça-feira, 10, quando questionado sobre possíveis problemas entre um governo de direita liderado por ele e o brasileiro. “Acho que será mais fácil Dilma (Rousseff) entrar em acordo comigo do que com Cristina”, afirmou.

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Macri convocou correspondente estrangeiros, pelos quais foi entrevistado durante 40 minutos. Sua campanha não contou com apoio externos explícitos, como ocorreu com o governista Daniel Scioli, seu rival no segundo turno que será disputado dia 22.

Scioli teve ajuda de Luiz Inácio Lula da Silva em um comício em Buenos Aires e foi recebido pela presidente Dilma Rousseff quatro dias antes do primeiro turno, dia 25. O governista voltou então à Argentina dizendo ter conseguido da presidente a promessa de ajuda para ampliar as reservas argentinas, na faixa de US$ 26 bilhões. Segundo Scioli, um acordo com o Banco Central brasileiro permitiria aumentar em US$ 10 bilhões esse volume.

Questionado se esperava contar também com essa ajuda, pertencendo a outra linha ideológica, Macri desconversou. Repetiu que o Brasil seria o primeiro país a visitar como presidente. “Espero trabalhar com a presidente atual e a instabilidade institucional e econômica seja resolvida o quanto antes.”

Ele evitou se definir em termos políticos. “Nossa ideologia é fazer.” Algumas de suas posições sobre comportamento, entretanto, dão pistas. Ele se declarou contra o aborto. E afirmou que o matrimônio gay, aprovado em 2010 pelo kirchnerismo com oposição de sua bancada, começou em Buenos Aires, que governa há oito anos. “Cumprimos uma decisão da Justiça que determinava o casamento de um casal gay”, disse. Sua candidata a vice, Gabriela Michetti, se disse após o primeiro turno arrependida por ter sido contra as uniões homossexuais. Sua frase foi usada pela presidente Cristina Kirchner para alertar eleitores de que a coalizão Cambiemos, de Macri, poderia se arrepender de outras coisas.

Embora tenha adotado três eixos vagos como plataforma – unir os argentinos, combater o narcotráfico e acabar com a pobreza –, Macri é direto quanto a suas primeiras medidas econômicas. Ele defende o fim do controle cambial no país no dia de sua posse. “Em 10 de dezembro, será possível ir a uma casa de câmbio comprar dólares”, afirmou. Desde 2011, em decorrência do baixo volume de reservas, o kirchnerismo limita o acesso à moeda estrangeira. Isso criou um mercado paralelo – o dólar era vendido ontem a 14,45 pesos, enquanto no oficial, sua cotação era de 9,60 pesos. A medida também travou o comércio exterior, já que importadores e exportadores têm acesso restrito à moeda.

Scioli afirma que a liberação repentina do câmbio provocaria uma desvalorização brusca do peso, com reflexo na inflação. Macri garante que conseguirá impedir isso com investimentos externos. “Esperamos reativar o Mercosul, que está paralisado, e fazer contatos com a Parceria Transpacífico”, disse, referindo-se ao bloco comercial de 12 países aprovado há um mês.

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Embora não tenha obtido apoios externos ostensivos como Scioli – que recebeu em Buenos Aires o uruguaio José Mujica e o boliviano Evo Morales, Macri faz desde o início do ano movimentos de reaproximação com o Brasil –, este ano, o comércio entre os dois países voltou ao nível de 2009. Em 12 de fevereiro, Macri foi o único dos candidatos a argentina a ser recebido pelo o chanceler brasileiro Mauro Vieira quando este visitou Buenos Aires, onde foi embaixador entre 2004 e 2010.

“O apoio de líderes estrangeiros ajuda pouco. São mais simbólicos para dentro do partido que para fora, para o eleitor”, avalia o sociólogo e consultor Ricardo Rouvier.