O deputado argentino Sergio Massa, líder do partido de oposição Frente Renovadora e provável candidato à presidência em 2015, afirma que para governar é preciso manter algumas conquistas do governo Kirchner, como as políticas de distribuição de renda e a inclusão dos idosos. Entre os opositores, Massa lidera as pesquisas de opinião, com 35% das intenções de voto.
"Essa mensagem da sociedade é um desejo de continuidade", disse ele, em entrevista ao
Estado
, durante encontro com representantes do setor industrial, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Acredito que devam ser valorizadas algumas políticas de direitos humanos que a Argentina quer consolidar e não retroceder. Essas coisas devem continuar, porque são uma conquista da sociedade e não apenas de um governo."
Uma pesquisa feita a pedido do jornal argentino La Nación mostra que 46% dos entrevistados querem que o novo presidente seja alguém capaz de "mudar algumas, mas continuar outras" políticas adotadas pela presidente Cristina Kirchner.
Massa tem questionado o projeto de reforma do Código Penal e afirma que a criminalidade deve ser tratada com "responsabilidade" pelo governo. Para o deputado, as medidas beneficiariam os criminosos porque eliminariam a reincidência e diminuiriam a pena aplicada a 146 crimes, entre eles, o tráfico de drogas, a prática de tortura e o homicídio doloso. "O projeto diminui as penas no momento em que a sociedade pede que sejamos responsáveis e firmes na luta contra a criminalidade", disse.
Em março, Cristina disse que a intenção do governo é aprovar a reforma do código ainda este ano. Um projeto foi entregue à presidente em fevereiro e está sendo analisado pelo Ministério da Justiça, que apontará eventuais mudanças.
Entre o fim de março e o começo deste mês, uma série de espancamentos foi registrada na Argentina.
Em 11 dias, 13 pessoas flagradas roubando pedestres foram espancadas por civis. Em um caso, ocorrido em Rosário, o ladrão, de apenas 18 anos, morreu. "O olho por olho cega uma sociedade", disse Massa. "Nunca se pode legitimar a política de justiça feita com as próprias mãos."
Quando os espancamentos foram divulgados, o deputado responsabilizou o governo. "Isso acontece porque o Estado está ausente e a sociedade não aguenta mais conviver com a impunidade."
Questionado sobre sua atuação nos governos de Néstor e Cristina Kirchner, o político disse que fez parte do kirchnerismo até começarem as divergências. "Quando começamos a divergir, eu sai", disse.
Massa integrou o governo de Néstor Kirchner, foi eleito prefeito de Tigre em 2007 e ocupou o cargo de chefe do gabinete de Cristina. Em 2013, criou o Frente Renovadora, formalizando o rompimento com o kirchnerismo e foi eleito deputado (mais informações nesta página).
Relações bilaterais.
Em entrevista na Fiesp, Massa afirmou que o Brasil é um parceiro fundamental para a Argentina e para a consolidação do Mercosul. "O Brasil e a Argentina juntos são determinantes, mas precisa haver transparência. Há temas nos quais somos competidores, mas precisamos (aprender a) trabalhar juntos."
Para Massa, a dificuldade na relação bilateral é resultado de "entraves burocráticos", mas o Brasil segue sendo o "país mais importante (da América Latina) para a Argentina."
Sobre a relação do Mercosul com a União Europeia, o deputado argentino acredita que primeiro é preciso consolidar o bloco sul-americano internamente, deixá-lo mais forte, para depois negociar com os europeus. "É fundamental que o Mercosul tenha vida para depois lidar com a UE", afirmou. O ponto de discórdia na negociação entre os dois blocos é o prazo para a redução total nas tarifas dos produtos importados. A UE pede que esse prazo seja de 10 anos, enquanto a Argentina pede 15 anos. Brasil, Uruguai e Paraguai falam em um prazo de até 12 anos.
/ COLABOROU CARLA ARAÚJO