Opositor que deu ultimato a Evo não consegue sair do aeroporto e volta a Santa Cruz

Luis Fernando Camacho havia anunciado que entregaria pessoalmente uma carta de renúncia para que o presidente assinasse; milhares de apoiadores do líder indígena invadem terminal de aeroporto para intimidar opositor

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Por Redação
Atualização:

LA PAZ - O líder opositor boliviano Luis Fernando Camacho, que prometeu forçar o presidente Evo Morales a assinar uma carta de renúncia redigida por ele, retornou nesta terça-feira, 5, para a cidade de Santa Cruz, depois de ser impedido de deixar o aeroporto de El Alto, na região de La Paz.

"Um avião decolou com o senhor Camacho na direção de Santa Cruz", 900 km ao leste de La Paz, anunciou o chefe de polícia da cidade, coronel Franz Sellis Mercado.

Dezenas de simpatizantes de Evo, alguns com pedaços de pau, invadiram o terminal e tentaram entrar na zona restrita onde Camacho permaneceu por várias horas, mas foram impedidos por policiais.

Líder opositor boliviano Luis Fernando Camacho retornou a Santa Cruz depois de ser impedido de desembarcar em El Alto, na região de La Paz Foto: DANIEL WALKER / AFP

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Em um primeiro momento, os manifestantes não acreditaram no anúncio do chefe de polícia de que Camacho, presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, havia deixado a capital do país.

Camacho chegou ao aeroporto durante a madrugada, procedente de Santa Cruz, a região mais rica da Bolívia e reduto da oposição. Na segunda-feira à noite, em tom de desafio durante um comício, ele anunciou que entregaria pessoalmente a Evo a carta de renúncia para que o presidente assinasse, algo considerado improvável.

A oposição boliviana denunciou uma fraude nas eleições de 20 de outubro, nas quais Evo foi eleito para um quarto mandato. Os opositores exigem a renúncia de Evo, a anulação da votação e a convocação de novas eleições sem a participação do presidente.

Camacho se tornou o rosto mais visível da oposição após as eleições, ofuscando o ex-presidente Carlos Mesa, candidato rival de Morales e segundo colocado na votação.

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"Estão me chamando para pedir que eu retorne (para Santa Cruz). Como vou voltar, se a renúncia não foi assinada?", escreveu Camacho no Facebook antes de ser obrigado a abandonar a capital do país.

Em um comunicado, o Ministério do Interior anunciou durante a manhã a mobilização de policiais para "garantir e resguardar a integridade física" de Camacho.

Manifestantes atendem comício convocado pelo Comitê Nacional de Defesa da Democracia (CONADE) em Santa Cruz, Bolívia, contra o resultado da eleição presidencial que reelegeu Evo Morales Foto: Daniel Walker/AFP

No Twitter, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, pediu que as autoridades bolivianas garantam a liberdade de movimento e a circulação de Camacho. Desde a semana passada, o organismo regional realiza uma auditoria do processo eleitoral.

No poder desde 2006, Evo não comentou publicamente as ações de Camacho, mas pediu aos seguidores que defendam sua reeleição e denunciou planos de golpe da oposição.

Denúncia na OEA

Em Washington, durante uma sessão extraordinária da OEA na segunda-feira, o chanceler da Bolívia, Diego Pary, denunciou um golpe de Estado em curso em seu país, promovido pela oposição.

"A agressão seletiva aos cidadãos e às forças de segurança, o apelo para que as Forças Armadas e a Polícia Nacional se rebelem e, finalmente, a convocação ao presidente Evo Morales para deixar o governo em 48 horas são claras evidências de que há um golpe de Estado a caminho que pretende fazer ruir a vida democrática da Bolívia por meio do caos e do enfrentamento", disse Pary.

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No comício de segunda-feira em Santa Cruz, Camacho declarou a milhares de simpatizantes: "Eu vou levar pessoalmente esta carta à cidade de La Paz para que Morales a assine". "Eu lhes garanto que Deus vai me trazer com esta carta assinada", disse o líder do Comitê Cívico de Santa Cruz.

No sábado, Camacho deu um ultimato de 48 horas ao presidente para que renuncie e pediu a intervenção das Forças Armadas na crise política. O prazo acabou na segunda-feira à noite sem nenhum efeito sobre Evo.

Camacho também pediu à população que "paralise" todas as repartições públicas da região de Santa Cruz. O país entrou na terceira semana de protestos pelas eleições.

A missão da OEA pediu aos bolivianos que entreguem qualquer "informação ou documentação" que possa ajudar a esclarecer as dúvidas sobre a eleição.

"A equipe técnica da Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos abre canais para receber informação e documentação relativa às eleições de 20 de outubro e os acontecimentos pós-eleitorais", completou a missão.

A oposição boliviana não aceita a auditoria da OEA, que considera uma "manobra diversionista para manter Evo no poder". Iniciados um dia após a votação, os protestos deixaram 2 mortos e 140 feridos.

Os opositores afirmam que Evo está determinado a permanecer no poder a qualquer custo. Ressaltam que o presidente não aceitou o resultado do referendo de 2016, no qual os bolivianos rejeitaram a possibilidade de reeleição de modo indeterminado. Uma decisão polêmica de 2017 de um tribunal constitucional permitiu uma nova candidatura. / AFP

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