PUBLICIDADE

Instituições de esquerda da Colômbia denunciam ressurgimento de grupos paramilitares

Guerrilhas se desmobilizaram oficialmente em 2006, mas segundo denúncias, elas assassinaram 28 pessoas em fevereiro

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

BOGOTÁ - Ao todo, 20 organizações colombianas de esquerda denunciaram na terça-feira o ressurgimento de grupos paramilitares no país, que oficialmente se desmobilizaram em 2006 mas que, segundo o registro dessas instituições, assassinaram 28 pessoas em fevereiro.

Os homicídios fazem parte de um relatório apresentado em Bogotá e assinado, entre outros, pelo Partido Comunista Colombiano (PCC), a Cúpula Agrária, o Movimento Nacional de Vítimas de Crimes de Estado (Movice) e vários congressistas do Polo Democrático Alternativo (PDA).

Guerrilheiras das Farc descansam em acampamento do grupo na região montanhosa da Colômbia Foto: AFP PHOTO / LUIS ACOSTA

PUBLICIDADE

O documento relatou a morte de 13 líderes sociais e de direitos humanos, enquanto outras 15 pessoas "foram assassinadas durantes as ações de 'limpeza social' como parte da estratégia de terror (dos paramilitares) e com o desejo de controlar às comunidades onde fazem se fazem presentes". Os homicídios fazem parte das 54 agressões totais contabilizadas em fevereiro, uma situação descrita como "absolutamente grave" pela porta-voz do Movice, Soraya Gutierrez.

"Obviamente nós sabemos que são estruturas paramilitares que nunca se desmobilizaram e que continuam atuando. Apesar de o governo tentar negar e as qualificar como simples grupos criminosos, nós dizemos: são estruturas paramilitares com a mesma forma de atuação", disse Soraya.

A organização paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) se dissolveu oficialmente em 2006, durante a presidência de Álvaro Uribe (2002-2010), apesar de organizações sociais e de direitos humanos terem denunciado em 2015 seu ressurgimento como grupos armados espalhados pelo país.

No que diz respeito à onda de agressões em fevereiro, as organizações afirmaram que acreditavam que podia ser uma resposta à expectativa de uma possível assinatura do acordo de paz no dia 23, possibilidade praticamente descartada, assim como um eventual cessar-fogo bilateral e definitivo entre o governo e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Outra possível razão apontada pelo documento é "intimidar os movimentos sociais, populares e de direitos humanos" frente à greve nacional programada para quinta-feira.

Os ataques aconteceram em 14 departamentos da Colômbia que "coincidem com as zonas prioritárias para a implantação do programa de pós-conflito", o que, segundo Soraya, "chama a atenção".

Publicidade

Durante a apresentação do documento, a líder do partido da União Patriótica (UP), Aída Avella, que perdeu quase 4 mil integrantes assassinados por paramilitares nos anos 1980, também esteve presente.

"Todas as unidades do grupo Autodefesas Unidas da Colômbia foram reativadas e isto é muito grave", disse ela, que apelou para que um novo genocídio como o que seu partido sofreu, não volte a acontecer.

Nesse sentido, as organizações solicitaram aos negociadores de paz do governo e às Farc a criação de uma Comissão de Alto Nível de Garantias de Não Repetição "levando em conta a grave situação de risco que as comunidades enfrentam nos territórios".

A comissão identificará fatores de risco, vigiará o cumprimento das obrigações de proteção do Estado e a implantação de todas as medidas necessárias para perseguir e eliminar o paramilitarismo.

Aída anunciou que espera se reunir nos próximos dias com o corpo diplomático estrangeiro para buscar colaboração na proteção dos direitos humanos nas regiões. "Vamos visitar vários embaixadores amanhã (quarta-feira), mas já tivemos reunião com o embaixador da Noruega e de Cuba", informou. /EFE

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.