Organizações progressistas são alvo do Projeto Veritas 

O’Keefe diz que usa seus ‘jornalistas secretos’ para desafiar as pessoas e testar sua honestidade

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - O maior sucesso de James O’Keefe ocorreu em 2009, quando vídeos que gravou em segredo levaram ao fechamento de entidade dedicada à organização comunitária e à assistência a pessoas de baixa renda. Ao lado de uma mulher que dizia ser prostituta, ele se apresentou como um cafetão interessado em abrir um bordel com imigrantes menores de idade.

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Funcionários da entidade em diferentes cidades deram orientação tributária e bancária à dupla, apesar de a prostituição ser ilegal em quase todo o território americano. Os vídeos foram divulgados por um site de Andrew Breitbart, ativista conservador fundador da publicação que leva seu nome. Uma das principais inspirações de O’Keefe, Breitbart morreu em 2012 e foi substituído no comando da empresa por Steve Bannon, que foi conselheiro sênior do presidente Donald Trump até agosto.

O Projeto Veritas, fundado por O'Keefe em 2010, recebeu US$ 4,9 milhões em 2016 Foto: Stephen Crowley/The New York Times

Em 2010, O’Keefe criou o Projeto Veritas como entidade sem fins lucrativos, sustentada por doações. Em 2016, a instituição recebeu US$ 4,9 milhões, segundo documentos enviados à receita federal americana. Desse total, US$ 1,7 milhão veio de instituição ligada aos irmãos Koch, conservadores que estão entre os principais financiadores do Partido Republicano.

“O Projeto Veritas se promove como uma organização de jornalismo investigativo, mas não é. É um grupo que tem sua própria agenda”, disse Jane Kirtley, professora de ética e legislação de mídia da Universidade de Minnesota. Segundo ela, os métodos de O’Keefe são inaceitáveis do ponto de vista ético. “Além de usar identidades falsas, ele edita muitos dos vídeos que realiza para distorcer ou retirar declarações de contexto”, afirmou.

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Professor da Escola de Jornalismo da Universidade Northeastern, Dan Kennedy concorda: “Qualquer organização de mídia olha com ceticismo o uso do engano como um instrumento de reportagem”. Em sua opinião, identidades fictícias devem ser adotadas em casos extremos, nos quais não há outro caminho para a obtenção de informações de interesse público.

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O’Keefe usa seus “jornalistas secretos” para conseguir declarações embaraçosas não apenas de repórteres, mas de integrantes de organizações normalmente identificadas com causas progressistas. “Você desafia as pessoas e as coloca em situações que testam sua honestidade. Você está patrulhando as fronteiras da ordem moral”, disse ele ao Estado.

Em 2010, ele foi condenado por usar falso pretexto para entrar no escritório de uma senadora democrata e passou três anos em liberdade condicional.

No ano passado, O’Keefe tentou se infiltrar na fundação Open Society, a segunda maior entidade filantrópica dos EUA, fundada pelo bilionário George Soros, um doador do Partido Democrata. Mas, depois de deixar uma mensagem se apresentando como potencial doador, ele esqueceu de desligar o telefone e continuou a falar sobre o plano para criar um embuste contra a organização, que obviamente naufragou.

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