O destino trágico da Venezuela começa a ser traçado no fim da década de 90, quando os EUA concebem o Plano Colômbia, prevendo repasses bilionários para que Bogotá atacasse a cadeia de oferta de cocaína. Bem armados e financiados, Exército e polícia obtêm vitórias contra as Farc e o ELN, que após a Guerra Fria haviam buscado no narcotráfico uma forma de financiamento.
Sob pressão, as guerrilhas colombianas começam a operar de dentro do território Venezuelano, apoiadas por um novo aliado: o comandante Hugo Chávez, que havia assumido o poder em 1999.
Em abril de 2002, Chávez sofre uma tentativa de golpe de Estado, mas volta à presidência nos braços do povo. A quartelada faz o líder bolivariano tomar duas decisões desastrosas. Paranoico com a possibilidade de uma intervenção militar estrangeira, Chávez envia tropas à fronteira com a Colômbia, que à esta altura já estava abarrotada de narcoguerrilheiros.
Em janeiro de 2003, uma greve geral de dois meses paralisou a indústria do petróleo, causando uma retração de 27% do PIB. Irritado, Chávez realizou um expurgo da burocracia estatal, substituindo civis por militares de confiança, principalmente na PDVSA, a estatal petroleira.
Assim, enquanto as tropas se envolviam com traficantes na fronteira com a Colômbia, os militares assumiam postos-chave no governo. Hoje, eles ocupam 9 dos 33 ministérios e 25% do cargos de gabinete. Como muitos estão envolvidos no narconegócio, passaram a ser chamados de “Cartel de los Soles” - os sóis são as divisas usadas pelos generais do Exército venezuelano.
Na prática, porém, o cartel não tem hierarquia clara, funciona em células que muitas vezes incluem civis e competem umas contra as outras - é comum haver enfrentamentos entre membros da Guarda Nacional Bolivariana e das Forças Armadas, que trocam tiros para ver quem fica com a cocaína apreendida.