Os especialistas em guerra erraram

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Por Christopher Cerf Victor S. Navasky
Atualização:

Com o quinto aniversário da invasão do Iraque sobre nossas cabeças, parece que a maioria dos especialistas concorda no geral que o "reforço de tropas" está funcionando e, apesar da continuidade das baixas, finalmente atingimos um "ponto de definição". Certamente essa é a opinião de George W. "Missão cumprida" Bush, Donald "Coisas acontecem" Rumsfeld, Dick "As ruas de Bagdá certamente vão irromper em alegria" Cheney, Bill "A ação militar não vai durar mais que uma semana" O?Reilly e Condoleezza "Não queremos que a prova conclusiva seja um cogumelo nuclear" Rice. Mas as vozes acima são todas partidárias. Pelo que sabemos - e, como fundadores do Instituto de Espertologia, somos especialistas na matéria -, até agora nenhuma instituição imparcial empreendeu um levantamento abrangente dos especialistas na guerra no Iraque. Conseqüentemente, nosso instituto assumiu para si a condução de tal investigação. Para aqueles que eram jovens demais para ver ou velhos demais para lembrar, no nosso estudo original, The Experts Speak: The Definitive Compendium of Authoritative Misinformation (Os Especialistas Falam: O Compêndio Definitivo sobre Desinformação Oficial), de 1984, lembramos que não obstante os melhores esforços de nosso quadro de pesquisadores em todo o mundo, fomos incapazes de identificar um único especialista que estivesse certo. Na época, apesar dessas conclusões, nossa integridade acadêmica nos impeliu a admitir a probabilidade estatística de que, na teoria, os especialistas pudessem estar certos metade do tempo. Mas simplesmente não encontramos nenhum. Nosso novo estudo sobre a guerra no Iraque intitulado Mission Accomplished! Or How We Won the War in Iraq (Missão Cumprida! Ou Como Vencemos a Guerra no Iraque) é diferente. Podemos declarar sem medo de nos contradizer que nunca na história dos levantamentos do instituto houve um consenso tão espetacular entre os especialistas - aqueles que, em virtude do seu status oficial, prestígio acadêmico, título formal, domínio do jargão e/ou número de publicações, presumivelmente sabem do que estão falando. Eles todos parecem concordar que: O elo entre o Iraque e os terroristas da Al-Qaeda que executaram os atentados de 11 de setembro era (citando o colunista do New York Times William Safire) um "fato incontestável". Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa ("Somente um tolo, ou possivelmente um francês, pensaria o contrário", segundo o colunista Richard Cohen do Washington Post). O custo da guerra seria baixo ("Estamos lidando com um país que pode financiar sua própria reconstrução", dizia o então subsecretário da Defesa, Paul Wolfowitz). O inspetor-chefe de armas da ONU não era confiável ("Hans Blix não foi capaz de encontrar as marcas do arsenal iraquiano", disse Laura Ingraham, âncora de programa de rádio). A tortura é justificável ("As pessoas razoáveis discordarão sobre em que circunstâncias a tortura é justificada", segundo John C. Yoo, então subassistente do secretário da Justiça.) Abu Ghraib não foi tão ruim assim (Abu Ghraib "não é diferente do que ocorre no ritual de iniciação acadêmica em Yale", afirmou Russ Limbaugh). Os EUA venceram a guerra nas primeiras semanas ("As únicas pessoas que pensam que essa não foi uma vitória são os liberais de Upper West Side e umas poucas pessoas de Washington", escreveu Charles Krauthammer, colunista). Embora tenham ocorrido divergências, o "grande consenso" foi bipartidário. O senador John McCain (que disse antes da guerra que "o povo do Iraque saudará os EUA como libertadores") observou em setembro de 2003 que "os próximos três a seis meses" seriam cruciais. Três meses depois, a senadora Hillary Clinton (que antes da invasão disse que Saddam Hussein continuaria "a tentar desenvolver armas nucleares") insistiu que "os seis ou sete meses seguintes" seriam "críticos". Os partidários de Barack Obama talvez tentem argumentar que o senador por Illinois não compartilhou desse consenso, mas como lhe falta experiência em política externa e, conseqüentemente, ele não se qualifica como um especialista, está excluído do nosso estudo. No entanto, como acadêmicos escrupulosos, admitimos que existiu e existe um pequeno grupo de dissidentes em relação ao "grande consenso", mas eles são na sua maioria cidadãos comuns ou de extrema esquerda (e extrema direita) que não contam. Além disso, eles servirão apenas para poluir nossa amostra. Por último, embora o instituto não costume expressar opinião própria sobre a matéria, sentimos que cabe a nós observar a respeito do "reforço de tropas" que existem amplos precedentes para a tese do "momento de definição" acima mencionada? 7 de julho de 2003: "Este mês será um momento de definição política para o Iraque" (Douglas J. Feith, então subsecretário da Defesa). 16 de junho de 2004: "Um momento de definição virá daqui a duas semanas" (George W. Bush). 2 de fevereiro de 2005: "Em 30 de janeiro, no Iraque, o mundo testemunhou um momento que os historiadores algum dia chamarão de um momento de definição" (Donal Rumsfeld, então secretário de Defesa dos Estados Unidos). 14 de julho de 2006: "Eu acho... a virada da maré... veja, eu me lembro... fui criado no deserto, mas marés... é fácil ver uma virada de maré... eu disse essas palavras" (George W. Bush). Acreditamos que o resumo acima de nossas conclusões convença qualquer pessoa razoável de que nosso estudo foi tão rigoroso, sistemático e sério quanto foram os dos próprios especialistas. *Christopher Cerf e Victor S. Navasky são os autores de ?Mission Accomplished! Or How We Won the War in Iraq: The Experts Speak? (Missão Cumprida! Ou Como Nós Vencemos a Guerra no Iraque: Os Especialistas Falam), do qual este artigo foi adaptado.

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