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Os EUA 'divididos em dois grupos' e um candidato insensível

Por É JORNALISTA e É JORNALISTA
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Análise: David Brooks Em 1980, cerca de 30% dos americanos recebiam algum benefício do governo. Hoje, como destacou Nicholas Eberstadt do American Enterprise Institute, são 49%. Em 1960, a ajuda do governo totalizava US$ 24 bilhões. Em 2010, este total tinha aumentado 100 vezes. Mesmo levando em conta a inflação, estas subvenções concedidas pelo governo aos cidadãos aumentaram mais de 700% nos últimos 50 anos. E este aumento dos gastos, observa Eberstadt, cresceu muito mais nos governos republicanos do que nos democratas. Destes fatos é possível tirar algumas conclusões práticas. Podemos dizer que o Estado que distribui estas verbas está se expandindo a um ritmo insustentável e levará o país à falência. Também podemos dizer que os EUA estão gastando demais com assistência médica para os idosos e muito pouco com as famílias jovens e em investimentos para o futuro. Mas não são estes os argumentos práticos usados por Mitt Romney numa reunião para arrecadação de fundos, há alguns meses. Romney, que critica o presidente Barack Obama por dividir a nação, dividiu a nação em dois grupos: os que fazem e os que "pedem". O seu comentário sugere algumas coisas. Em primeiro lugar, que ele não conhece o país onde vive. Quem são esses "aproveitadores"? Será o veterano da guerra do Iraque que procura o Departamento de Assistência aos Veteranos de Guerra? É o estudante que pede um empréstimo para ir à universidade? O aposentado da Previdência Social ou do Medicare? Sugere ainda que Romney desconhece a cultura dos EUA. Indubitavelmente, o Estado que distribui benefícios aos cidadãos se agigantou, mas os EUA continuam sendo uma das nações que mais trabalham na face da terra. Os americanos têm uma jornada de trabalho maior do que a de qualquer outro país. Os americanos acreditam no trabalho mais do que praticamente qualquer outro povo - 92% afirmam que o trabalho duro é a chave do sucesso, segundo um estudo do Pew Institute. Os americanos não são crianças que adoram um governo que interfere demais. Ao contrário, a confiança no governo tem declinado. O número de pessoas que acham que as subvenções concedidas pelo governo promovem a mobilidade social declinou. Os beneficiados por uma parcela desproporcional dos recursos do governo não são os que adoram o governo que tudo controla. São os republicanos. São os idosos aposentados. São brancos com grau de formação superior. Longe de serem servas do liberalismo, os que recebem esses benefícios são mais hostis ao governo do que o americano médio. Os comentários de Romney revelam também que ele perdeu todo senso de convenção social. Em 1987, durante o segundo mandato de Ronald Reagan, 62% dos republicanos acreditavam que o governo tem a responsabilidade de ajudar os que não podem cuidar de si mesmos.Agora, segundo o Pew, apenas 40% dos republicanos acreditam nisto. A parte final do comentário sugere que Romney não sabe o que seja ambição e motivação. A fórmula que ele cria é: as pessoas que são forçadas a contar com o próprio esforço são autônomas. As que recebem benefícios são dependentes. As pessoas são motivadas quando se consideram competentes. E são motivadas quando têm mais oportunidades. A ambição aumenta com a possibilidade, não pela privação, como uma viagem aos lugares mais pobres do mundo mostra claramente. É evidente que há alguns programas do governo que cultivam esquemas de dependência em algumas pessoas. Nesta categoria eu incluiria a ajuda federal aos deficientes e o seguro-desemprego. Mas, como se descrevesse os EUA dos nossos dias, o comentário de Romney é uma fantasia de country clube. É o que os milionários muito satisfeitos com a própria condição comentam entre si e reforça toda visão negativa que as pessoas têm a respeito deles. Pessoalmente, acho que ele é um homem gentil, decente, que diz bobagens porque finge ser o que não é - uma espécie de inimigo do governo caricaturado. Mas isso não importa. O fato é que ele está realizando uma campanha presidencial acanhada e inepta. Sr. Romney, suas ideias sobre a reforma dos benefícios distribuídos pelo governo são fundamentais, mas quando vai parar com a incompetência? / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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