Os EUA ficarão bem

Apesar de 60% dos americanos achar que o país está na direção errada e vive prolongado declínio, seu futuro será brilhante, com uma população jovem e empreendedora

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Por David Brooks
Atualização:

The New York TimesSegundo pesquisas de opinião recentes, 60% dos americanos acham que os EUA estão seguindo na direção errada. A mesma porcentagem acredita que o país vive um prolongado declínio. O sistema político é disfuncional. Uma crise fiscal parece inevitável. Há muitas razões para se estar pessimista.Mas se quiserem ler sobre elas, parem por aqui mesmo. Esta coluna é uma grande orgia saborosa de otimismo. Porque o fato é que, apesar de todo os problemas, o futuro dos EUA será excepcionalmente brilhante.Nos próximos 40 anos, demógrafos estimam que a população americana aumentará 100 milhões de pessoas, para um total de 400 milhões. A população será empreendedora e relativamente jovem. Em 2050, somente um quarto terá mais de 60 anos, ante 31% na China e 41% no Japão.Em seu livro The Next Hundred Million: America in 2050 (Os próximos 100 milhões: os EUA em 2050, em tradução literal), o excepcional geógrafo Joel Kotkin esboça como esse crescimento mudará o panorama nacional. Extrapolando de tendências correntes, ele descreve um arquipélago de vibrantes distritos residenciais e comerciais periféricos, aldeias e centros urbanos.Neocentros urbanos. A onda inicial de suburbanização era espraiada e sem traços característicos. Tom Wolfe observou certa vez que só se sabia que se estava em uma nova cidade quando se começava a ver um novo conjunto de 7-Elevens. Mas os seres humanos precisam de locais significativos, por isso os incorporadores imobiliários vem construindo neocentros urbanos - locais de reunião em distritos periféricos onde as pessoas podem comer, trabalhar, frequentar cinemas e desfrutar do espaço público.Nos próximos 40 anos, argumenta Kotkin, os centros urbanos continuarão seu modesto (e eternamente sobrevalorizado) renascimento, mas a ação real será fora das povoações compactas, autossuficientes. Muitos desses lugares serão nas regiões ensolaradas do sul e do sudoeste - o ímpeto para se mudar para lá continua forte -, mas Kotkin aponta também para centros emergentes de baixo custo nas planícies, como Fargo, Dubuque, Iowa City, Sioux Falls e Boise.O crescimento demográfico é movido em parte pela fertilidade. A taxa de fertilidade americana é 50% maior que a de Rússia, Alemanha ou Japão, e muito superior à da China. Os americanos nascidos entre 1968 e 1979 são mais orientados para a família que os da geração anterior, e estão criando famílias maiores.Ademais, os EUA continuam sendo um ímã para imigrantes. As atitudes globais sobre imigração divergem, e os EUA estão entre os melhores na sua assimilação (enquanto a China é excepcionalmente ruim nisso). Por conseguinte, metade dos imigrantes habilidosos do mundo vem para os EUA. Como observa Kotkin, entre 1990 e 2005, imigrantes iniciaram um quarto das novas empresas abertas apoiadas por capital de risco.Competitividade. Os EUA já estão no topo ou perto do topo em quase toda medida global de competitividade econômica. Um estudo abrangente de 2008 da Rand Corporation revela que os EUA lideram o mundo no desenvolvimento científico e tecnológico. Os EUA contabilizam hoje um terço dos gastos mundiais em pesquisa e desenvolvimento. Em parte como um resultado disso, o trabalhador americano médio é quase dez vezes mais produtivo que um trabalhador chinês médio, uma diferença que diminuirá, mas não desaparecerá durante nosso tempo de vida.Isso provoca um enorme dinamismo. Como assinala Stephen J. Rose em seu livro Rebound: Why America Will Emerge Stronger From the Financial Crisis (Recuperação: por que os EUA sairão mais fortes da crise financeira, em tradução literal), o número de americanos que ganham entre US$ 35 mil e US$ 70 mil por ano diminuiu 12% entre 1980 e 2008.Mas isso ocorreu em grande parte porque o número dos que ganham acima de US$ 105 mil cresceu 14%. Nos últimos dez anos, 60% dos americanos ganharam mais de US$ 100 mil anuais em pelo menos um ou dois desses anos, e 40% tiveram rendas desse nível por pelo menos três.Emocional. Com o enriquecimento mundial, a demanda aumentará para o tipo de produto que os americanos são bons em oferecer - experiências emocionais. Os americanos educados crescem numa cultura de materialismo moral; eles têm suas sensibilidades aguçadas por programas como Os Sopranos, The Wire e Mad Men, e vão criar companhias como a Apple, com as identidades revestidas de moral e significado psicológico que os consumidores afluentes almejam. À medida que a geração ascendente lidera um renascimento econômico, ela participará também de um renascimento comunitário. Estamos vivendo uma era de empreendedorismo social global.Em 1964, havia mais de 15 mil fundações nos EUA. Em 2001 elas eram 61 mil. Em 2007, a doação privada total superou US$ 300 bilhões. A participação em organizações como City Year, Teach for America e College Summit cresce a cada ano. A suburbanização ajuda. Para cada redução de 10% na densidade populacional, as chances de as pessoas ingressarem num clube local aumentam 15%. A cultura de serviço está hoje consolidada e disseminada.Em suma, os EUA estão à beira de um renascimento demográfico, econômico e social, erguido sobre suas forças históricas. Os EUA sempre foram bons em mudanças inovadoras. Eles sempre sobressaíram na construção descentralizada de comunidades. Eles sempre tiveram esse materialismo moral que cria produtos ricos em significado. Um país com tudo isso em seu favor com certeza não vai esperar passivamente e deixar que uma cultura política podre o arraste para baixo. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK É COLUNISTA E COMENTARISTA POLÍTICO E CULTURAL

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