Os interesses do Ocidente

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Por É CIENTISTA POLÍTICO e DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO BRASIL
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Análise: Hussein Ali KaloutBashar Assad pode até renunciar, mas só fará isso após destroçar os revoltosos de Alepo e assegurar a soberania do establishment. Nada impede que haja, depois, uma transição negociada e ordenada no âmbito do Partido Baath. O poder não será passado de bandeja. Uma das constatações mais lamentáveis do conflito é o crescimento acelerado e irracional do sectarismo. Os governos da região não percebem que ao Ocidente não interessa uma frente árabe ou islâmica unida. Desde os anos 70, as potências ocidentais descobriram que o sectarismo é a fórmula mais eficiente para fragmentar a unidade árabe. Foi assim no Líbano, no Iraque e, agora, na Síria. O plano de um novo Oriente Médio traçado pela "doutrina Bush" estava balizado no fomento à divisão do mundo árabe-muçulmano em grupos sectários. Os embates internos manteriam a tensão social elevada e impediriam a construção de objetivos comuns, perpetuando a dependência das comunidades étnicas e religiosas do Ocidente. Um mundo árabe coeso e um islamismo unificado é a antítese do que EUA, Europa e Israel desejam. Gamal Abdel Nasser tentou estimular a unidade árabe por meio de uma política externa e de defesa unificadas nos anos 50, mas acabou boicotado pelas monarquias do Golfo que não aceitavam um líder personalista. A luta por protagonismo, poder econômico e liderança política criou cismas que perduram. A questão Síria só se resolverá com a incorporação de mediadores de confiança. Parte das negociações exigem a inclusão de atores regionais como Iraque, Catar, Turquia e, essencialmente, Arábia Saudita e Irã. Há dúvida se o Ocidente e os sauditas tolerariam um êxito iraniano na mediação do conflito. O interesse ocidental no Oriente Médio está consubstanciado numa doutrina geopolítica balizada em três pontos cardeais: petróleo, segurança de Israel e contenção do islamismo. A Síria é só uma peça nesse tabuleiro.

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