Os iranianos querem mais

Exigências de Teerã têm ido além do programa nuclear e os EUA se inclinam a aceitá-las

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Por JENNIFER e RUBIN
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A Associated Press relata: "Um dia antes do esgotamento do prazo (até então estabelecido) para um acordo nuclear, o Irã pressionou, na segunda-feira, pelo fim do embargo da ONU à venda de armas ao país - um acordo paralelo ao qual os Estados Unidos se opõem enquanto procuram limitar o poder e a influência de Teerã no Oriente Médio. Embora as discussões tenham se concentrado em estoques de urânio e no cronograma para o levantamento das sanções econômicas, o velho desejo do Irã de ver levantado o embargo de armas convencionais na assinatura do acordo é um ingrediente que se adicionou ao caldo". Não basta que Washington tenha acatado virtualmente todas as demandas do Irã sobre armas nucleares. Agora, ele quer o desafogo em outras áreas também. Não é difícil imaginar por quê. A posição de negociação americana foi tão enfraquecida que, quer consiga o acordo desejado ou não, o Irã sai infinitamente melhor do que quando as negociações começaram. O presidente americano, Barack Obama, abandonou qualquer pretensão de uma opção militar enquanto basicamente reconhece o direito do Irã de enriquecer urânio. A França, historicamente líder em não proliferação de armas nucleares e crítica ríspida de concessões americanas, está relutante sobre o acordo iminente, como esteve na preparação do Plano de Ação Conjunto. O jornal The Times of Israel reporta: "Autoridades da delegação iraniana já sugeriam que o prazo das conversações fosse outra vez ampliado para além do dia 7, que já era uma postergação sobre o prazo anterior de 30 de junho. Fontes iranianas culpam principalmente a França, representada nas conversações pelo chanceler Laurent Fabius, pelo endurecimento da posição do Ocidente a um ponto além das concessões máximas que o Irã está disposto a fazer". Seria ótimo pensar que a França salvaria o Ocidente de um acordo ruim, mas a ideia de que o governo francês bloqueará sozinho um acordo final parece fantasiosa. Sente-se que um pacto de algum tipo, mesmo com detalhes a serem preenchidos posteriormente, é virtualmente inevitável. Na semana passada, o ex-consultor de Obama, Dennis Ross, tentou advertir o governo: "No fim das contas, se não vamos ter um acordo perfeito - e nenhum acordo de controle de armas jamais será perfeito -, precisamos ser capazes de dissuadir o Irã de nos enganar durante a vigência do pacto. Mais importante até, talvez, porque o Irã será deixado como um Estado no limiar nuclear ao fim do acordo, os iranianos precisam saber que, se avançarem para a capacidade de produzir armas, provocarão o uso da força contra seu programa nuclear. Quanto mais claros formos sobre as consequências durante a vigência do acordo, mais crível será essa ameaça mais tarde". No entanto, o Ocidente deu muitos sinais de que ignorará o não cumprimento. O Irã não tem nenhuma razão para pensar que violações durante a vigência do acordo receberão uma resposta diferente. O Irã continua desafiador porque essa resposta se mostrou muito útil. Ela também torna mais difícil completar um acordo, ainda que ele seja unilateral e desemboque em um Irã com capacidade de produzir armas nucleares em aproximadamente uma década. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIKÉ JORNALISTA

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