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Os problemas de Bush para atacar o Iraque

Por Agencia Estado
Atualização:

Com seu governo e a opinião pública divididos sobre seu plano de iniciar a primeira guerra preventiva da história dos Estados Unidos, contra o Iraque, o presidente George W. Bush retomou hoje a campanha para justificar uma ação militar contra o governo de Bagdá pela voz de um dos principais proponentes do ataque dentro da administração - o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. "O que o presidente quer fazer, e fará, de acordo com seu próprio cronograma, é fornecer informação que ele considera importante a respeito de qualquer decisão que venha a tomar (sobre um ataque)", disse Rumsfeld, revelando, no tom defensivo da explicação, a difícil e complexa situação em que o líder americano se colocou ao insistir numa estratégia belicosa que não tem apoio suficiente em casa e, até agora, isolou mais os Estados Unidos do que o alvo da ira americana - o regime de Saddam Hussein - na comunidade internacional. Arábia Saudita, Egito e Jordânia, os três principais aliados de Washington no mundo árabe, foram inequívocos na sua desaprovação a um ataque ao Iraque nas atuais circunstâncias, sob qualquer pretexto. Rumsfeld referia-se a informações que a administração pretende fornecer ao Congresso sobre a sabedoria de atacar o Iraque, durante audiências públicas sobre o assunto que a Comissão de Relações Internacionais da Câmara de Representantes iniciará dentro de duas semanas. Altos funcionários da administração informam que, por ora, não há nenhum plano de guerra sobre a mesa do presidente e que nenhum estará pronto antes das eleições legislativas de novembro próximo, cujos resultados fornecerão mais um dado importante para a decisão final. Estarão em jogo o controle tanto do Senado, hoje nas mãos dos democratas, como da Câmara, sob o poder dos republicanos. As dificuldades políticas para justificar a abandono da estratégia de contenção do Iraque, adotada no final da Guerra do Golfo, em 1991, em favor de um assalto não provocado contra um país de importância estratégica duvidosa para os EUA, não impediram Washington de iniciar alguns preparativos militares. De acordo com The Wall Street Journal, o Pentágono tem transportado para o Kuwait, em regiões próximas à fronteira com o Iraque, toneladas de equipamento bélico que estava armazenado em bases americanas na Europa e em Catar. "Atualmente, os EUA têm equipamento suficiente para uma divisão - ou 25 mil soldados - no acampamento militar de Doha, no Kuwait", informou o Journal. Cerca de 8 mil soldados americanos estão estacionados nas proximidades da fronteira do Kuwait com o Iraque. Entre as opções militares em debate no Pentágono, a que parece ter mais peso envolveria um pesado bomberdeio aéreo do país seguido de assaltos a pontos estratégicos. Não há mistério quanto ao objetivo de Bush: tirar Saddam Hussein no poder. Na frente política e diplomática, porém, o presidente americano só perdeu espaço desde que retomou os planos da guerra contra o Iraque - não por coincidência no auge dos escândalos financeiros em grandes empresas americanas que atingiram a aura de invencibilidade que seu governo havia adquido graças à firme resposta que deu aos ataques terroristas de 11 de setembro do ano passado. Embora haja poucas dúvidas de que ele obterá apoio do Congresso para uma ação armada contra Bagdá, o endosso do legislativo é visto, agora, como politicamente indispensável - o que não era o caso, pelo menos na visão da Casa Branca, dois meses atrás. Mais complicado para Bush é a necessidade de legitimar qualquer ataque contra o Iraque negociando uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que aprove a ação. Advogados da Casa Branca alegam que as resoluções que estabeleceram o regime de sanções contra o Iraque já autorizam ações militares contra o país, na medida em que ele descumpriu suas obrigações sob o regime internacional de inspeção de armas de destruição em massa. Mas obter uma resolução específica do Conselho de Segurança, autorizando um ataque, é considerado um imperativo por próceres republicanos insuspeitos, como o ex-secretário de Estado James Baker, que chefiava a diplomacia americana durante a Guerra do Golfo e negociou a formação da maior aliança militar da história.

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