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Os republicanos precisam mudar

Por David Brooks
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Os republicanos gostam de filmes de faroeste. Admiram os heróis do estilo de John Wayne, rudes, individualistas e corajosos. Apreciam líderes que defendem sua herança do Oeste. Gostam do modo como esses filmes exaltam seus temas essenciais, como liberdade, individualismo, oportunidade e clareza moral. No entanto, o maior de todos os diretores de filmes de faroeste, John Ford, na verdade procurou, nesses filmes, narrar uma história diferente. Elas não exaltavam o indivíduo rude, mas a ordem cívica. Por exemplo, em seu filme de 1946, Paixão dos Fortes, Henry Fonda interpreta Wyatt Earp, o delegado que domina Tombstone. O filme não é sobre tiroteios, mas sobre como pessoas decentes construíram uma cidade. O filme, em outras palavras, trata de religião, educação, cultura, regras de comportamento social e do Estado de Direito - pilares de uma comunidade. No filme de Ford, como na vida real, a história da colonização do Oeste americano é a história da criação da comunidade. Em vez de celebrar a liberdade desenfreada e o pioneiro solitário, os filmes de Ford ressaltam os hábitos sociais que os americanos prezam - as reuniões na barbearia local, a vida social na igreja e o bate-papo com o guarda. Hoje, se os republicanos tivessem aprendido as lições oferecidas pelos colonizadores do Oeste, ou alguma coisa com os filmes de Ford, não seriam o partido da liberdade desenfreada e do individualismo elevado ao máximo. Seriam o partido da comunidade e da ordem cívica. Iniciariam cada dia lembrando os meios concretos com que as pessoas criam comunidades disciplinadas e como elas se aglutinam numa nação. E indagariam: o que ameaça os esforços dos americanos para estabelecer comunidades disciplinadas em que possam educar seus filhos? As respostas formariam uma lista: são os transtornos causados pelos altos e baixos da economia; a fragilidade da família americana; a explosão da dívida pública e privada; as oscilações no custo da energia; a desordem do sistema de saúde pública; a segmentação da sociedade e como os meios para subir na escala social parecem estar desaparecendo. Mas o Partido Republicano não aprendeu a história. Às vezes, parece ter se isolado desses relacionamentos concretos da vida comunitária. Os republicanos, hoje, constituem um partido tão adepto do individualismo e da liberdade que já não são mais o partido da comunidade e da ordem. Com isso, perderam o contato com os jovens, que se orientam de maneira excepcional para a comunidade. Não têm nada a dizer para a classe média baixa, que teme que o capitalismo tenha perdido o controle. Pouco têm a dizer para a classe média alta, interessada no meio ambiente e outras preocupações comuns. Os republicanos falam mais sobre o mercado do que sociedade, mais sobre renda do que qualidade de vida. Celebram o capitalismo, que é um meio, mas ficam mudos quanto a uma vida satisfatória, que é o fim. Coisas como cortes de impostos, que são táticas eficientes em algumas circunstâncias, são transformadas em princípios sagrados que devem ser perseguidos a qualquer custo. A ênfase na liberdade e na escolha individual pode dar certo em áreas pouco povoadas, mas não funciona nas regiões densamente povoadas dos EUA: nas cidades e subúrbios onde os republicanos estão sendo massacrados. Nesses locais, as pessoas sabem que suas vidas são influenciadas pelas decisões individuais dos outros. E elas estão habituadas a se preocuparem com o bem comum. Nesses locais, os democratas conseguiram se estabelecer como um partido ordeiro e seguro. O presidente Barack Obama fez da responsabilidade seu tema principal e mostrou ser uma presença tranquilizadora. Se os republicanos pretendem um retorno, terão de se reformular como um partido da ordem cívica. Em primeiro lugar, terão de descontaminar a sua marca. Isso significa que terão de encontrar um líder que seja calmo, prudente, tranquilizador e justo. Depois, terão de explicar que há duas teorias da ordem cívica. A liberal, em que equipes de especialistas fazem planos para estabelecer a ordem quando os problemas surgem. E a visão mais conservadora, na qual o governo cria regras, mas outorga poderes a uma rede complexa de instituições em que o mercado está inserido. Essas visões estão contidas nos princípios democratas. Os republicanos sabem que têm de mudar, mas parecem prisioneiros de velhos temas que hoje não têm mais ressonância. A resposta será encontrada na dedicação à comunidade e à ordem cívica e nos vínculos que forjam uma nação. *David Brooks é escritor e apoiou John McCain nas eleições do ano passado

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