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Os tesouros da Pérsia que o mundo desconhece

Os 640 quilômetros que separam Teerã de Persépolis preservam os vestígios de um período de ouro

Por Isfahan e Irã
Atualização:

A capital Teerã e a cidade de Persépolis, no sudoeste iraniano, são separadas por 640 quilômetros e 3 mil anos de história. De um ponto a outro, volta-se no tempo, atravessando a terra onde se orquestrou a Revolução Islâmica, passando pelas riquezas preservadas da antiga Pérsia, patrimônios da humanidade de importância similar às pirâmides do Egito, mas isoladas por uma política externa que afastou o país da rota do turismo mundial. Situado entre o Mar Cáspio e o Golfo Pérsico, o planalto iraniano ainda guarda resquícios do caminho percorrido pelos persas, da antiguidade ao passado recente. No trajeto está a cidade sagrada de Qom, reduto de clérigos, com seus cerca de 200 centros de estudos islâmicos e madrassas, que atraem estudantes xiitas de países vizinhos. Entre seus muros foi articulada a Revolução de 1979, que levou ao poder o aiatolá Khomeini. A casa onde o líder espiritual morou até ser exilado pelo xá, em 1964, está preservada. Qom é a cidade mais conservadora do Irã, onde raramente se vê mulheres sem o chador - o manto negro que cobre seus corpos da cabeça aos pés. Chega-se a Isfahan, antiga capital persa, 250 quilômetros depois. Esfahan nesf-e jahan ("Isfahan é a metade do mundo"), diz o ditado do século 16, repetido até hoje. É uma espécie de museu a céu aberto da arquitetura islâmica, com um impressionante acervo restaurado de palácios e mesquitas que inclui Jameh, a maior mesquita do Irã, construída em um local onde cultos religiosos são praticados desde o século 11 - quando seguidores do zoroastrismo, religião monoteísta prenunciada pelo profeta Zaratrusta e cujas concepções influenciariam o judaísmo, o cristianismo e o próprio Islã. Turistas, a grande maioria iranianos, mas também asiáticos e alguns europeus, concentram-se na Praça Iman, sentados nos jardins levantados em 1597, com vista para a Mesquita Sheikh Lotfollah e o Palácio Ali Qapu e suas cúpulas de mosaico azul e verde, marca da arte persa. Para eles, no entanto, curioso mesmo é visitar a Catedral de Vank, construída em 1606 ao lado de outras 13 igrejas católicas do bairro armênio de Jolfa, que reúne uma comunidade de 7 mil cristãos iranianos. Isfahan é uma cidade para se explorar a pé. São 11 pontes sobre o Rio Zayandeh que os jovens cruzam trocando discretos flertes. O melhor da viagem é perder-se pelas vielas do Bazar-e Bozorg, com seus coloridos tapetes persas e obras de arte reproduzidas pelas mãos de artesãos locais. Muitas peças são feitas ali mesmo, aos olhos dos visitantes. "Aprendi com meus avós", diz o artesão Zarif Ali, de 34 anos, pintando sob o olhar atento do filho, de 7 anos, pequenos frascos de rímel feitos com ossos de camelo que eram usados na antiguidade pelas mulheres persas. Mais 250 quilômetros adiante está Persépolis, berço da civilização persa. Foi ali que Ciro, o Grande, iniciou a expansão de seu império, em 500 a.C. Suas ruínas, descobertas em 1930, revelam maravilhas como um complexo de palácios do imperador Dario I que o Ocidente só conhece pelos livros de história.

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