Os vínculos dos militares da Venezuela com os EUA

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Por Agencia Estado
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As forças de operações especiais do Exército da Venezuela, treinadas por instrutores americanos em dez diferentes tipos de ações, entre as quais as de defesa interna e contra-rebelião, provavelmente iniciaram e com certeza deram sustentação ao movimento pela recondução de Hugo Chávez à presidência do país. "Se o señor Chávez cometeu erros, há leis suficientes para puni-lo e uma Assembléia Nacional para investigá-lo" disse à AE, por telefone, o coronel G. Gonçalo, do Estado-Maior da infantaria Ranger. De acordo com o oficial, "na sexta-feira era claro que a Guarda Nacional estava influenciada por setores do empresariado nacionalista ligados a políticos radicais, o que resultou na tragédia do Palácio Miraflores, quando morreram dez pessoas." O coronel Gonçalo não revela detalhes do movimento constitucionalista que mobilizou "talvez 60%" das unidades militares venezuelanas, mas admite que "a situação é muito delicada". As tropas de Caracas seguem tradicionalmente o modelo militar americano. Maior fornecedor externo de petróleo para os Estados Unidos, a Venezuela recebe tratamento privilegiado em vários campos. Na área de defesa, a influência é clara: o formato, a estrutura de comando, grande parte da doutrina e até o modelo das fardas é claramente inspirado pelo Pentágono. A aviação de combate utiliza desde os anos 80 os caças supersônicos F-16A Falcon (24 unidades) que a Casa Branca reluta em fornecer para outros países do continente como, por exemplo, o Brasil. As forças especiais, distribuídas pela 42ª Brigada de Infantaria, pela 1ª Brigada de Pára-quedistas, pelos Grupos Rangers, e também pelos batalhões de Assuntos Civís e Anti-guerrilha, passam regularmente pelo sofisticado esquema de instrução oferecido pelo Pentágono. O modelo mais recente e muito secreto é o Intercâmbio de Treinamento Conjunto (JCET, iniciais do programa em inglês) que envolve cerca de 20 países, entre os quais Argentina, Belize, Bahamas, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Republica Dominicana, Equador, El Salvador, Granada, Guatemala, Jamaica, Nicarágua, Paraguai, Uruguai e a Venezuela. Um relatório do próprio Departamento de Defesa relaciona empreendimentos integrados de forças especiais americanas (SOF) com as equivalentes locais executados em vários pontos. O Brasil é citado - sem outro detalhamento - como cenário des três deslocamentos das SOF no ano 2000. Um trabalho de inteligência conjunto e secreto na República Dominicana recebeu recursos da ordem de US$ 154 mil. Houve sigilo também no Paraguai e na Jamaica. O maior pacote de operações cobertas foi realizado na Venezuela: 11 missões, que exigiram US$ 1,6 milhões em verbas de custeio. As ações classificadas se referem quase sempre aos ciclos de instrução. Os soldados das SOF venezuelanas recebem conhecimentos em dez especialidades: 1 - ação de combate direto; 2 - reconhecimento estratégico; 3- guerra não-convencional; 4 - defesa interna; 5 - assuntos civís; 6 - operação psicológica; 7 - contraterrorismo; 8 - busca e resgate no teatro de operações ; 9 - atuação combinada com equipes dos EUA; 10 - assistência humanitária. Há seis meses, José Vicente Rangel, o ministro da Defesa do governo de Hugo Chávez, estava procurando expandir a cooperação com os Estados Unidos. Apesar da linha crítica do presidente venezuelano em relação à guerra antiterror lançada por George W. Bush, Rangel ofereceu as facilidades das bases fluviais de Ciudad Bolivar e El Amparo para abrigar facilidades logísticas das equipes que cooperam no combate contra o narcotráfico no noroeste e norte da Amazônia.

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