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Ossário pode trazer prova da existência de Cristo

Por Agencia Estado
Atualização:

Será que finalmente foi encontrado o irmão de Jesus Cristo, esse Tiago, que há séculos brinca conosco de "esconde-esconde"? Ele aparece aqui, desaparece acolá e bandos de exegetas estão em seu encalço sem jamais o apanhar. Mas agora um epígrafo francês, especialista em hebraico e aramaico, teria feito uma descoberta decisiva, capaz de atestar que Jesus teria tido um irmão, chamado Tiago. Esta prova, ele a encontrou em um colecionador privado de Jerusalém. Trata-se de um "ossário" do século I - uma pequena caixa de pedra, sobre a qual se lê a inscrição: "Tiago, filho de José, irmão de Jesus". Primeira pergunta: Seria um ?falso? Tiago? A procura é por um autêntico. Em primeiro lugar, sabemos para que seriam esses ossários, no princípio de nossa era e até a tomada de Jerusalém pelos romanos, no ano 70: deixava-se decompor o cadáver e depois, quando as carnes desaparecessem, os ossos eram recolhidos e depositados em algum desses "ossários" de calcário. Por outro lado, as datas são coincidentes: estes ossários foram utilizados até o ano 70. Ora, Tiago - chamado o Justo, ou o Menor, aquele que algumas passagens bíblicas apresentam como irmão de Jesus - morreu apedrejado no ano 62. A estas provas, acrescentam-se outras comprovações científicas: sob o microscópio eletrônico, o ossário confessa ter dezenove séculos de existência - e , além disso, não apresenta nenhum traço de intervenção moderna. Surge uma segunda questão: admitindo-se a autenticidade do objeto, pode-se ter a certeza de que essa inscrição - "Tiago, filho de José, irmão de Jesus" - designa o irmão de Jesus Cristo? Com certeza houve muitos Josés em Jerusalém (um em cada dez), muitos Jesus também. Os Tiagos são mais raros. E, como Jerusalém contava 80.000 habitantes, essa "constelação" - ?Tiago, filho de José, irmão de Jesus? - poderia referir-se a outro Tiago, diferente daquele do qual falamos. Mas aqui surge outro argumento: nos ossários, era muito raro que se indicasse o nome de um irmão. Em 3.000 ossários identificados, apenas um cita o nome de um irmão do defunto. Para que esse nome seja citado, é preciso que o irmão seja um personagem conhecido, ilustre. Naturalmente, é este o caso de Cristo nesse ano de 62, em que Tiago foi lapidado e depois, venerado no ossário. Há também questões teológicas. Sabíamos pela Bíblia da existência deste irmão de Jesus: os Evangelhos chegam a falar de "irmãos e irmãs do Cristo". Quando Lucas fala de Maria , diz assim: "Ela deu à luz seu filho primogênito". Mas estas passagens muito precisas sempre foram interpretadas, sobretudo por Roma, como designando "primos", e não "irmãos" de Cristo (em todo o Oriente Médio , "primos que vivem sob o mesmo teto" eram chamados de "irmãos"). Outros exegetas católicos lembram que José teria podido ter filhos de um primeiro casamento. Na época, não se fazia diferença entre "irmão" e "meio-irmão". É compreensível a obstinação da Igreja em rejeitar que Tiago tenha sido o irmão verdadeiro de Jesus. Trata-se de uma recusa, não somente lógica, mas também inevitável. De fato, a virgindade de Maria é um dos dogmas mais sólidos e mais queridos da Igreja Católica. Os protestantes não acreditam na virgindade de Maria. A supressão desta virgindade seria um tremendo golpe e abalaria toda a crença romana. A bem da verdade, e admitindo-se que o ossário seja autêntico, isso não colocará em questão o dogma da "Imaculada Conceição". O gravador que inscreveu a fórmula: "Tiago, filho de José, irmão de Jesus", poderia simplesmente ter tomado a palavra "irmão" em algum dos dois sentidos acima citados, ou seja, "primo" ou "meio-irmão", e isso seria compatível com a virgindade. Por outro lado, se o ossário for autêntico, contaremos então com uma prova impressionante a respeito da existência histórica de Jesus - uma prova arqueológica. Na realidade, poucos vestígios atestam a historicidade do Cristo e, no século XIX, isso suscitou dúvidas a respeito da existência real de Jesus (por exemplo, o escritor Renan, na França), provocando grande indignação por parte da Igreja. Entretanto, possuímos provas muito claras a respeito da passagem de Jesus sobre a terra nos textos escritos: as epístolas de Paulo (ano 50 depois de Cristo), os Evangelhos (sobretudo o de Marcos, que data do ano 65 d.C.). Mas os testemunhos mais notáveis se encontram entre os escritores não-cristãos. Três romanos falam de Jesus: Plínio, o Jovem, Tácito e Suetônio, nunca em termos delicados. Tácito fala da "detestável superstição em nome de um Cristo que, sob o reinado de Tibério, o procurador Pilatos entregou ao suplício". Mas o mais forte testemunho vem do grande escritor judeu, Flávio Josefo. Ele nos fala que Tiago, "irmão de Jesus, chamado o Cristo", foi condenado à morte pelo tribunal judaico, por volta do ano 62. Outra passagem de Josefo fala diretamente de Cristo: "Naquela época, houve um homem sábio chamado Jesus, cuja conduta era boa. Pilatos o condenou a ser crucificado e a morrer. Seus discípulos contaram que ele lhes apareceu três dias depois de sua crucifixão e que ele estava vivo". (Mas tudo faz crer que esta frase tenha sido "interpolada" pelos escribas cristãos). Não podemos deixar de nos espantar ao ver que uma aventura tão fabulosa quanto a do Cristo, que um acontecimento de tamanha grandeza, tenha deixado tão poucas provas na história positiva. É neste sentido também que a descoberta do ossário e de sua inscrição constituiriam um avanço de capital importância, se for autenticada: além da confirmação efetiva da existência de Tiago, ela constituiria uma das provas arqueológicas mais extraordinárias a respeito da historicidade de Jesus Cristo. Por isso, esperamos com ansiedade a publicação dos documentos científicos que seguirão ou acompanharão o artigo publicado pelo pesquisador francês, André Lamaire, na edição de novembro/dezembro da revista "Biblical Archeological Review".

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