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Otan reclama da falta de recursos na luta contra Kadafi

Sob pressão de França e Grã-Bretanha, secretário-geral pede que países da aliança cedam mais armas para a intervenção na Líbia

Por Andrei Netto
Atualização:

Pressionado por críticas da França e da Grã-Bretanha, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, reclamou ontem da falta de aviões cedidos pela coalizão para as operações militares na Líbia. A resposta foi dada na reunião de chanceleres dos 40 países-membros da aliança atlântica, aberta ontem, em Berlim. De acordo com Rasmussen, faltam aviões com precisão cirúrgica para atingir alvos militares em centros urbanos. As queixas do secretário-geral foram feitas na abertura da reunião. Em discurso, Rasmussen enumerou as ações da organização nas primeiras duas semanas de intervenção militar. Segundo ele, até agora foram realizadas mais de 10 mil operações. Então, passou a solicitar mais aeronaves capazes de abalar a defesa de Kadafi. "A Otan tem os ativos necessários para empreender a missão na Líbia, mas precisa de alguns caças com capacidade de atacar com precisão - e sem causar baixas civis - as unidades do (ditador Muamar) Kadafi que foram escondidas em regiões povoadas", afirmou. Em seguida, colocou a coalizão contra a parede: "Estou convencido de que os países (da Otan) fornecerão os meios necessários". Parte da suposta carência de aeronaves teria sido causada pela saída dos Estados Unidos do comando das operações. Quando transmitiu à Otan a direção dos ataques, Washington retirou os aviões A-10 e AC-130, especializados no bombardeio a tanques e veículos militares. Nos bastidores do encontro, segundo a agência Associated Press, militares da organização estimavam que falta à coalizão dez aviões com essa capacidade de ataque. "Para evitar a morte de civis, precisamos de equipamentos sofisticados. Precisamos de jatos com maior precisão", frisou. A mesma constatação já havia sido feita nesta semana pelo ministro da Defesa da França, Gérard Longuet, que lamentou a falta dos aviões A-10 e AC-130. Nos Estados Unidos, o senador John McCain, candidato derrotado à presidência pelo Partido Republicano, fez crítica semelhante. "Quando retiramos do campo de batalha nossos meios mais decisivos - os aviões AC-130 e A-10 -, nós perdemos uma capacidade significativa. Nossos aliados não possuem esses equipamentos", afirmou, defendendo o maior engajamento dos EUA nos ataques ao regime de Kadafi. Sob pressão. As reclamações do secretário-geral soaram como uma resposta aos governos da França e da Grã-Bretanha, que desde a última semana têm cobrado maior intensidade dos ataques. O ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, chegou a definir a ação da Otan na Líbia como "insuficiente". Na noite de quarta-feira, em Paris, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, concordaram em insistir nas cobranças para que a operação militar na Líbia seja intensificada. Presente à reunião da aliança em Berlim, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, reiterou que Washington está "comprometido" com a "missão compartilhada". "Apoiaremos com determinação a coalizão até que o trabalho seja encerrado", assegurou, sem especificar que apoio concederá. Apesar das queixas, Rasmussen garantiu que a Otan continuará suas operações na Líbia "dia a dia, ataque por ataque, tanto tempo quanto for necessário". "Nós faremos tudo o que for necessário para proteger as populações civis", garantiu. Os dois maiores focos de preocupação dos rebeldes são as cidades de Misrata, a leste de Trípoli, e Zintan, a oeste, ambas cercadas por forças do regime. A reunião da Otan foi iniciada horas depois que líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - os integrantes do Brics - voltaram a pedir o fim das hostilidades na Líbia. "A Rússia, como os outros países do Brics, está profundamente preocupada com as mortes entre a população civil. Nossa posição conjunta é a de que as soluções para o problema devem ser encontradas por meios políticos e diplomáticos, e não pelo uso da força", disse o presidente russo Dmitri Medvedev. / COM REUTERS e AP

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