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Otan vê o crescimento do poderio militar da China como ‘desafiador’ pela primeira vez

Descrição, contida em um comunicado emitido na conclusão de uma cúpula de um dia com a presença do presidente Joe Biden e outros líderes de países-membros, pode dar o tom das relações entre a aliança e o país nos próximos anos

Por Steven Erlanger
Atualização:

NOVA YORK - As crescentes ambições militares da China estão apresentando à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) “desafios que devem ser enfrentados”, disse a Aliança Atlântica de 30 nações nesta segunda-feira, 14. Foi a primeira vez que a Otan retratou o alcance e as capacidades em expansão das forças armadas chinesas de uma forma potencialmente conflituosa.

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A descrição da China, contida em um comunicado emitido na conclusão de uma cúpula de um dia com a presença do presidente Joe Biden e outros líderes de países-membros, refletiu uma nova preocupação sobre como o país pretende exercer seu poderio militar nos próximos anos.

Biden tem deixado claro que lidar com poderes autoritários será a pedra angular de sua presidência, especialmente com Rússia e China. 

Mas, embora o comunicado da Otan descreva a Rússia como uma “ameaça” à Otan, usando uma linguagem dura que não era necessariamente uma surpresa, foi a descrição da China que atraiu atenção e pode definir o tom que a aliança vai adotar com relação aos chineses.

Tanto Biden quanto o ex-presidente Donald Trump antes dele colocaram mais ênfase nas ameaças que a China representa para a ordem internacional, tanto por causa de seu sistema autoritário quanto por causa das ambições militares e gastos com Forças Armadas.

OTAN descreveu o crescimento do poderio militar da China como 'desafiador' pela primeira vez Foto: Brendan Smialowski/Pool/AFP

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que o orçamento militar da China perde no mundo apenas para o dos Estados Unidos, e que a China está construindo rapidamente suas forças militares, incluindo sua marinha, com tecnologias avançadas.

Em uma discussão sobre "ameaças multifacetadas" e "competição sistêmica de poderes assertivos e autoritários" no início do documento, a Otan afirma que "as ações agressivas da Rússia constituem uma ameaça à segurança euro-atlântica." 

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A China não é chamada de ameaça, mas a Otan afirma que “a crescente influência da China e as políticas internacionais podem apresentar desafios que precisamos enfrentar juntos como uma aliança”.

A Otan promete “envolver a China com o objetivo de defender os interesses de segurança da aliança”. 

Funcionários da Otan disseram que a China está usando cada vez mais as rotas do Ártico, usando suas Forças Armadas com a Rússia, enviando navios ao Mar Mediterrâneo e com muitas atividades na África. A China também está trabalhando em armamentos baseados no espaço, bem como em inteligência artificial e hackeamento sofisticado de instituições ocidentais.

Bem abaixo no documento, a China é novamente descrita como apresentando “desafios sistêmicos”, desta vez para a “ordem internacional baseada em regras”. 

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A Otan também cita o arsenal nuclear em expansão da China e sistemas de entrega mais sofisticados, bem como sua marinha em expansão e sua cooperação militar com a Rússia.

Em um gesto em direção à diplomacia e na tentativa de engajamento, a aliança promete manter “um diálogo construtivo com a China sempre que possível”, inclusive “sobre a questão da mudança climática”, e apela para que a China se torne mais transparente sobre suas forças armadas e especialmente suas "capacidades nucleares e doutrina.”

Os líderes também assinarão a decisão de passar o próximo ano atualizando o conceito estratégico da Otan, que há 11 anos via a Rússia como um parceiro potencial e nunca mencionou a China. 

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Novos desafios da guerra cibernética, inteligência artificial, desinformação e novas tecnologias de mísseis e ogivas devem ser considerados para “preservar a dissuasão”, e o Artigo 5 do tratado de fundação da aliança será "esclarecido" para incluir ameaças a satélites no espaço e ataques cibernéticos coordenados.

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