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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Pagando a conta por erros de cálculo

Políticos democratas pressionam Biden a adotar posição mais dura com o governo Bolsonaro

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Atualização:

Em carta a Joe Biden, 64 deputados democratas fizeram um apelo para que o presidente americano retire do Brasil a condição de parceiro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e reduza o governo brasileiro, pelo menos, ao status anterior ao mandato de Donald Trump.

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“Escrevemos para expressar nossa profunda preocupação com a busca do presidente Jair Bolsonaro por políticas que ameaçam o regime democrático, os direitos humanos, a saúde pública e o meio ambiente”, afirma o texto.

O movimento contra o governo brasileiro no Congresso americano está ganhando corpo. No dia 16 de abril, uma carta assinada por oito senadores democratas expressou sua “profunda preocupação com a aceleração da destruição da Amazônia”.  No dia 6, oito senadores, cinco deputados democratas e um republicano apresentaram projeto de lei que restringe o acesso ao mercado americano de commodities originárias de desmatamento ilegal, conforme analisei na coluna anterior. Na defesa do projeto, a Amazônia brasileira ganhou destaque.

A arminha com os dedos virou marca do governo Bolsonaro e já foi usada até em fotos com crianças. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A bancada democrata no Senado tem 50 integrantes e, na Câmara, 220. Oito senadores e 64 deputados são fatias expressivas. Biden enfrenta dificuldade de levar adiante sua ambiciosa agenda, que envolve um pacote de US$ 1 trilhão para a infraestrutura e US$ 3,5 trilhões para programas sociais e ambientais. Seu partido, o democrata, divide-se entre fiscalmente conservadores e a esquerda.

A maioria democrata no Senado está pendurada no voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris, que por sinal pertence à corrente de esquerda, mais sensível às questões climáticas. Na Câmara, a margem é de apenas oito deputados. De maneira que Biden depende das duas alas de seu partido. 

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Em dado momento, é possível que, para destravar a agenda, o presidente precise oferecer algo à “bancada progressista”, composta de 96 deputados, e que apoiou essa última carta. Nesse “algo” pode estar, por exemplo, uma atitude mais dura em relação ao Brasil. 

Tradicionalmente, a política externa é o campo no qual governantes procuram confirmar suas credenciais ideológicas perante suas bases, quando elas sentem que eles as “traíram” em questões sociais e econômicas. Aliás, foi o que fez o presidente Jair Bolsonaro, ao encampar a versão de Trump de fraude em sua derrota eleitoral no ano passado. A carta dos 64 deputados lembra isso, e a tendência de Bolsonaro de fazer o mesmo no Brasil. É a conta chegando por uma série de erros de cálculo.

É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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