País tem recorde de debilidade democrática

Para historiador, a cultura política argentina é acostumada aos caudilhos

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Por Ariel Palacios
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A Argentina é o país com a imagem mais "européia" da América Latina. Buenos Aires gosta de ser vista como a "Paris da América do Sul". E apesar das constantes crises econômicas, o país consegue manter um elevado nível educacional, saúde pública e alta expectativa de vida. Mas - ainda que por fora a imagem lembre a Europa - a Argentina possui uma democracia carcomida pelos piores vícios do Terceiro Mundo. No Cone Sul, o país bate recordes de debilidade democrática. Desde 1916, quando os argentinos começaram a exercer o voto universal e secreto, jamais o país conseguiu ter três mandatos presidenciais completos. Uma única vez dois mandatos presidenciais consecutivos foram concluídos: Hipólito Yrigoyen (1916-22) e Marcelo T. de Alvear (1916-28). Nos 89 anos seguintes, nunca mais os argentinos tiveram dois presidentes diferentes seguidos com mandatos completos. "É surpreendente. Temos cinco prêmios Nobel e boas universidades, mas a cultura política é totalmente hispano-americana - acostumada à hegemonia política, aos caudilhos, à exaltação da pobreza e à transgressão da lei", analisou para o Estado o historiador José Ignacio García Hamilton. Em 1983, a democracia voltou à Argentina. Mas o eleito, Raúl Alfonsín, renunciou em 1989, seis meses antes do fim do mandato por causa da hiperinflação. Carlos Menem foi eleito na ocasião, e reeleito em 1995. Seu sucessor, Fernando De la Rúa, só cumpriu metade do mandato - antes de fugir da Casa Rosada para escapar de uma multidão que ameaçava invadir o palácio. Em abril de 2003, Néstor Kirchner chegou ao poder depois que seu adversário, Menem, desistiu de disputar o segundo turno da eleição. Kirchner concluirá seu mandato em 10 de dezembro. Mas a transmissão do poder deve ser pouco ortodoxa, uma vez que - se as pesquisas estiverem corretas - a eleita será sua mulher, a senadora Cristina Fernández de Kirchner. O cientista político Rosendo Fraga afirmou ao Estado que a Argentina "é uma grande contradição". "No índice de desenvolvimento humano da ONU, o país ocupa o posto número 36 em todo o mundo, o melhor da América Latina. No índice de qualidade de vida do The Economist, também tem o posto número 36, o melhor da região. Mas no índice de corrupção do Banco Mundial é o segundo pior da região. A regra geral é que quanto maior desenvolvimento humano e melhor qualidade de vida, menor é a corrupção e maior é a transparência. Mas, a Argentina quebra essa regra". "Esse é o país de Jorge Luis Borges, o escritor latino-americana de cultura mais universal. Mas também é a terra de Diego Armando Maradona, o ídolo transgressor. O fato é que a Argentina é as duas coisas ao mesmo tempo", explica. ENRIQUECIMENTO Kirchner aumentou seu patrimônio pessoal em 30%, entre 2003 e 2006, segundo informou o jornal El Cronista, com base na declaração de bens do presidente. Ele comprou oito propriedades em três anos (possui um total de 28 imóveis atualmente, entre casas e apartamentos). Além do aumento de patrimônio imobiliário a conta bancária do presidente passou de US$ 1,4 milhão a US$ 2,4 milhões.

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