Países reagem indignados a ameaça nuclear dos EUA

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Por Agencia Estado
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Países que, segundo notícias, são visados para um ataque nuclear num plano de contingência dos Estados Unidos exigiram indignados nesta segunda-feira explicações do governo de Washington, dizendo que tais insinuações criam mais instabilidade num mundo já tenso. O ministro do Exterior da Rússia, Igor Ivanov, afirmou que o plano, se for verdadeiro, iria "desestabilizar e exacerbar a situação", enquanto a China expressou-se "profundamente chocada". Um porta-voz do governo iraniano comparou os EUA a terroristas, e disse que as notícias mostram que Washington nunca irá observar a lei internacional sobre o uso de armas nucleares. Esses três países - ao lado do Iraque, Coréia do Norte, Líbia e Síria - teriam sido nomeados numa secreta "Revisão da Posição Nuclear" enviada pelo Pentágono ao Congresso em janeiro, que contempla o uso de armas nucleares contra países que ameaçam os Estados Unidos. A iniciativa marcaria uma mudança na antiga política americana de só usar armas nucleares em retaliação a um ataque nuclear ou em casos excepcionais durante período de guerra. Explicações dadas durante o fim de semana pelo secretário de Estado Colin Powell e a assessora de Segurança Nacional Condoleezza Rice, garantindo que os EUA não planejam usar armas nucleares, não foram suficientes para satisfazer Ivanov, o ministro do Exterior russo. Ele disse que a Rússia aguarda explicações de "um nível superior" que "tornariam as coisas claras e acalmariam a comunidade internacional, convencendo-a de que os Estados Unidos não têm tais planos." O ministro da Defesa russo, Sergei Ivanov, a caminho hoje de Washington para uma visita anteriormente programada, disse que pediria uma explicação ao secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld. A China afirmou que Washington não deveria adotar a posição de poder ser o primeiro a usar armas nucleares. "Países com armas nucleares deveriam assumir incondicionalmente que não serão os primeiros a usá-la, e não usar nem ameaçar usar armas nucleares contra Estados não-nucleares ou de regiões livres de armas nucleares", considerou o porta-voz do Ministério do Exterior, Sun Yuxi, em Pequim. O Irã - relacionado pelo presidente dos EUA, George W. Bush, como integrante de um "eixo do mal" - também respondeu com irritação. "A República Islâmica acredita que a era do uso da força para pressionar as relações internacionais já passou há muito, e aqueles que recorrem à lógica da força seguem exatamente a mesma lógica dos terroristas, apesar de estarem em posição de poder", avaliou o porta-voz governamental Abdollah Ramezanzadeh à Agência de Notícias da República Islâmica. Os outros países supostamente colocados na mira de um possível ataque nuclear não deram uma resposta imediata. O jornal iraquiano Babil, de propriedade do filho mais velho do presidente Saddam Hussein, noticiou a iniciativa dos EUA sem fazer comentários. O Japão, único país do mundo que já foi atacado com armas nucleares - pelos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial -, afirmou que se opõe ao uso de armas de destruição em massa, mas não comentou diretamente as notícias sobre os supostos planos americanos. "Não estamos em posição de dizer nada porque os documentos são secretos", considerou uma autoridade do Ministério do Exterior, que pediu para não ser identificada. Alguns jornais internacionais também expressaram temor de que os planos possam provocar uma desestabilização mundial. "O retorno do pesadelo nuclear numa era em que o mundo acreditava ter escapado dele deixa claro a fraqueza dos Estados Unidos não apenas para convencerem os povos sobre a justeza de suas posições, mas também para propriamente exercerem o poder que têm", escreveu em editorial o diário grego TA Nea. O The Times, de Londres, foi mais ponderado, afirmando que a revisão da política nuclear era um simples exercício teórico examinando as circunstâncias nas quais armas nucleares poderiam ser usadas. "Isso é menos Dr. Fantástico e mais as considerações que um país tem de fazer quando tem o status de superpotência", escreveu o jornal em editorial, referindo-se ao filme do cineasta Stanley Kubrick.

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