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Palestinos mostram otimismo com Obama

Pressão dos EUA sobre Israel por 2 Estados dá ânimo às negociações

Por Gustavo Chacra
Atualização:

As últimas semanas fortaleceram o sonho dos palestinos de finalmente, depois de seis décadas, terem seu tão sonhado Estado. Os discursos do presidente dos EUA, Barack Obama, e de sua secretária de Estado, Hillary Clinton, defendendo abertamente o direito de palestinos construírem um país e criticando a política de assentamentos de Israel, melhoraram a imagem do governo americano na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, segundo analistas palestinos consultados pelo Estado. Cenário bem diferente de poucos meses atrás, quando palestinos saíram com um saldo de 1.400 mortos da guerra em Gaza, o Hamas e o Fatah entraram em confronto e a direita em Israel, comandada por Binyamin Bibi Netanyahu, venceu as eleições. Obama, até aquele momento, se mantinha em silêncio sobre o conflito no Oriente Médio, provocando desilusão entre os palestinos. "Ficamos encorajados pelo discurso de Obama feito depois de encontro com o premiê de Israel na Casa Branca", afirmou Walid Salim, diretor do Centro de Disseminação da Democracia, em Jerusalém Oriental. Depois do encontro entre os dois, dia 18, o presidente americano defendeu uma solução de dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos. Hillary disse que Israel precisa congelar a construção de assentamentos na Cisjordânia. O premiê israelense, contudo, afirmou que os palestinos podem se governar com todos os poderes, menos os que "coloquem em risco a segurança de Israel". Bibi não usou a palavra Estado. Para o analista político Ali Jarbawi, um dos principais intelectuais palestinos, morador de Ramallah, "as palavras de Obama fizeram os palestinos ficarem otimistas, mas agora será a hora de ele agir para que sejam desmantelados os assentamentos na Cisjordânia". Nesta quinta-feira, em Washington, Obama receberá o presidente palestino, Mahmoud Abbas. Os dois devem discutir um plano que envolva países vizinhos de Israel e tenha como base a proposta da Liga Árabe, que prevê o reconhecimento de Israel pelos Estados árabes em troca da retirada dos território ocupados. O status final de Jerusalém e a questão dos refugiados é nebulosa na proposta, o que provoca dúvidas no lado israelense. De acordo com Salim, Obama alterará alguns pontos desse plano e pode incluir até mesmo alguns países não árabes, mas islâmicos, como o Irã. Ele lembra que os iranianos podem participar da mesma forma que já ocorre no Afeganistão, onde discutem a reconstrução. "Com a Síria e o Irã envolvidos, o Hamas terá menos incentivo para atacar", disse. Especula-se na imprensa árabe que o plano será delineado no discurso de Obama no Cairo, dia 4. "Haverá dois tipos de diálogo com Israel: de um lado, a Autoridade Palestina negociará o status final com os israelenses. De outro, o Hamas, via Egito, levará adiante negociações envolvendo Gaza, incluindo, futuramente, uma hudna (trégua por tempo limitado)", diz Salim. Ele lembra que próprio líder do Hamas, Khaled Meshal, se comprometeu com um período de dez anos sem violência se Israel deixar os territórios palestinos. ELEIÇÕES "Por enquanto, o grupo que controla Gaza estaria fora das negociações", afirma Jarbawi. Ele diz que quem "representa os palestinos, para os EUA, é o governo de Abbas". Um dos sinais da preferência foi o retorno de Salam Fayyad para o cargo de premiê da Autoridade Palestina. Favorito dos EUA, ele assumiu na semana passada. Khalil Shikaki, diretor do Centro Palestino para Política e Pesquisa, lembra que os palestinos enfrentarão um problema grave em breve: o fim do mandato do Parlamento e do presidente. Na prática, a presidência de Abbas terminou em janeiro, mas foi prorrogada por um ano - sem apoio do Hamas. O Parlamento está inoperante porque muitos deputados da organização islâmica estão presos em Israel. Outros, em Gaza, não recebem autorização para ir até Ramallah. Segundo Shikaki, com base em pesquisa de seu instituto, o Hamas possui hoje apenas um terço dos votos, enquanto o Fatah teria 40%. Para presidente, segundo o analista, Abbas pode facilmente perder para Ismail Haniya, o mais popular líder do Hamas.

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