PUBLICIDADE

Palestinos recebem Abbas como herói e Israel suspende repasse de impostos

Após autorizar a construção de mais 3 mil unidades residenciais em assentamentos de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia, gabinete israelense emite dura resolução sobre a reivindicação da ‘Terra de Israel’ e retém US$ 100 milhões da AP

Atualização:

JERUSALÉM - Ao mesmo tempo em que o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, era recebido como herói nacional em Ramallah, na Cisjordânia, o governo israelense adotava novas duras medidas em retaliação à votação da Assembleia-Geral da ONU de quinta-feira, que resultou na elevação de status dos palestinos de "entidade observadora" para "Estado observador" nas Nações Unidas.

PUBLICIDADE

Depois de decidir, na sexta-feira, autorizar a construção de mais 3 mil casas em assentamentos de Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, o governo israelense de Binyamin "Bibi" Netanyahu anunciou ontem o congelamento do repasse mensal de US$ 100 milhões em impostos arrecadados por Israel para a AP e aprovou uma das mais duras resoluções em defesa da reivindicação de "todos os territórios em disputa na Terra de Israel" desde os Acordos de Oslo, de 1993.

"A resolução da Assembleia-Geral (da ONU) não concede nenhum direito (aos palestinos) na Terra de Israel nem a retira do Estado de Israel e do povo judeu", diz a resolução, referindo-se, principalmente, à parte oriental de Jerusalém, ocupada pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

"Continuaremos a construir em Jerusalém e em todos os lugares que são de interesse estratégico no mapa de Israel", discursou Netanyahu – que busca reeleger-se na eleição israelense marcada para janeiro – durante o encontro semanal de gabinete.

Em relação à suspensão do repasse de impostos, Israel anunciou que não entregará o dinheiro neste mês para que os palestinos saldem parte de uma dívida de US$ 200 milhões da AP com a companhia de energia elétrica israelense. Pelo protocolo econômico dos Acordos de Oslo, a Fazenda israelense está encarregada de arrecadar e repassar à AP taxas alfandegárias de produtos que entrem em território palestino sob seu controle e impostos de operários palestinos que trabalham em Israel.

O dirigente palestino Yasser Abed Rabbo qualificou a retenção dos recursos de "pirataria e roubo". Israel já tinha congelado anteriormente os pagamentos à AP durante tempos de crises de segurança e tensões diplomáticas, atraindo as críticas da comunidade internacional. A suspensão do repasse deve aprofundar a crise financeira palestina, que depende do recurso e da ajuda internacional – principalmente dos EUA – para pagar seu funcionalismo público.

A votação na Assembleia-Geral da ONU foi considerada uma grande derrota diplomática para Israel e EUA. A elevação do status palestino foi aprovada por 138 votos a favor – incluindo os de Brasil e França – e 9 contra, além de 41 abstenções. A nova situação dos palestinos nas Nações Unidas não dá a eles a prerrogativa de voto. Mas possibilita que, como "Estado não membro", ingressem em organismos da ONU como o Tribunal Penal Internacional – onde, teoricamente, poderiam denunciar os israelenses por crimes de guerra. Israel considera que a ação palestina viola os Acordos de Oslo, pois, na sua interpretação, um Estado palestino só pode se estabelecer no marco de negociações de paz com o Estado judaico. O diálogo, porém, está emperrado desde a autorização, em 2009, para a ampliação de assentamentos na Cisjordânia.

Publicidade

Em Ramallah, após ser recebido por uma multidão eufórica, Abbas discursou na Mukata, sede da administração da AP. "Sim, agora temos um Estado", declarou. "O mundo disse, em voz alta, sim para o Estado da Palestina, sim à liberdade da Palestina, sim à independência da Palestina. Não à agressão, não aos assentamentos, não à ocupação." Ele declarou ainda que "a primeira e mais importante" tarefa do Estado é a de trabalhar pela unidade palestina e pela conciliação das facções rivais Fatah e Hamas – que controla a Faixa de Gaza. / REUTERS, AP e AFP

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.