Papa defenderá imigrantes nos EUA

Latinos, em especial os mexicanos, serão tema central da viagem do pontífice ao país; Francisco terá encontro com grupo em Nova York

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Por Cláudia Trevisan CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

A defesa dos imigrantes estará no topo da agenda do papa Francisco em sua primeira visita aos EUA, a partir do dia 22, o que colocará o pontífice no centro de uma das mais controvertidas questões da campanha para a eleição presidencial de 2016. A proposta de deportação das 11 milhões de pessoas que vivem sem documentos em solo americano é um dos fatores que levaram Donald Trump à liderança entre os eleitores republicanos.

Francisco deverá abordar o assunto no encontro que terá com o presidente Barack Obama, no dia 23, e no discurso que fará ao Congresso no dia seguinte – o primeiro de um papa ao Parlamento dos EUA. A situação dos imigrantes e dos refugiados também deverá ser tratada no pronunciamento que o pontífice fará na ONU, no dia 25.

Homens patrulham o Rio Grande, na fronteira do Estado americano do Texas com o México Foto: REUTERS/Eric Gay

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Mas o papa não manifestará suas posições apenas em discursos. A seu pedido, sua visita a Nova York incluirá encontro com 150 imigrantes e refugiados. Francisco chegou a cogitar um gesto simbólico contundente: entrar nos EUA pela fronteira com o México, mesmo percurso traçado por milhões de indocumentados que vivem no país. A ideia foi descartada por dificuldades logísticas.

Fé. Foi pelo México que Elvis Garcia Callejas chegou aos EUA, há dez anos, vindo de Honduras. Na época, ele tinha 15 anos e fugia da pobreza e da violência de San Pedro Sula, cidade com o maior índice de homicídios do mundo. Como muitos menores desacompanhados que entram nos EUA, ele viajou a pé, de ônibus, de carona e em cima de trens – um périplo que durou um mês. Mais tarde, dois de seus quatro irmãos tentaram se juntar a ele, mas foram detidos na fronteira e deportados.

No dia 25, ele estará no grupo que se encontrará com o papa. “Ainda não acredito”, disse ao Estado por telefone. “Esse é um papa da América Latina, que fala a mesma língua que eu. Um papa que quer mudanças na igreja, na política e na economia. Um papa que luta pelos direitos dos pobres, dos imigrantes e dos refugiados. É um papa muito diferente dos outros.”

Com ajuda de uma família dos EUA, Callejas se tornou cidadão americano e se formou em Espanhol, Sociologia e Desenvolvimento Internacional. Hoje, trabalha em uma instituição de caridade católica em Nova York, onde dá assistência a menores desacompanhados que chegam ao país. 

O ano passado registrou uma onda de imigração de crianças e adolescentes da América Central para os EUA. Nos 12 meses encerrados em outubro, 68 mil menores foram detidos na fronteira e enviados a abrigos ou postos sob a guarda de parentes.

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Campanha. Callejas espera que os pronunciamentos do papa sirvam como uma antítese às posições de Trump em relação aos imigrantes. “Muitas das coisas que ele diz não são verdadeiras e estimulam o ódio contra a comunidade latina imigrante”, avaliou. O pré-candidato republicano disse que mexicanos que entram no país são estupradores e traficantes. Entre suas promessas, está a construção de um muro entre os dois países, que seria pago pelo México.

Hoje com 21 anos, Hazel Bonilla foi levada pela família aos EUA quando tinha 6 anos. O pai acabou voltando ao país de origem, El Salvador, e Hazel vive com a mãe e o irmão mais velho. Nenhum deles tem situação regular nos EUA. “Minha mãe trabalha como caixa em uma loja e seus chefes tiram proveito de sua situação. O salário é baixo e muitas vezes ela não tem horário de almoço. Além disso, não temos seguro-saúde”, relatou Hazel à reportagem. No dia 25, ela estará entre os 150 imigrantes e refugiados que encontrarão o papa.

A salvadorenha não acredita que as propostas e a candidatura de Trump possam ser levadas a sério. “Ele é um político que tenta chamar atenção para si.” Apesar da retórica do republicano, Hazel afirma que o apoio nos EUA a pessoas como ela cresceu.

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A aprovação de uma reforma migratória que abrisse caminho para obtenção de cidadania pelos 11 milhões de indocumentados nos EUA era uma das prioridades do presidente Barack Obama. Projeto nesse sentido foi aprovado no Senado em 2013, mas nunca avançou na Câmara, em razão da oposição republicana. Em novembro, o democrata decidiu agir sem o aval do legislativo e assinou decreto que suspendeu a deportação de milhões de pessoas.

Quando Obama receber o papa Francisco na Casa Branca, a situação dos imigrantes será um dos temas da agenda, confirmou a assessoria do presidente. Outros assuntos que farão parte da conversa são o combate às mudanças climáticas, a atenção aos pobres e marginalizados, a garantia de liberdade religiosa e a promoção de oportunidades econômicas para todos.

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