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Papa muda recitação do rosário e surpreende a Igreja

Por Agencia Estado
Atualização:

A notícia de que o Papa João Paulo II resolveu mudar o esquema da recitação do rosário, uma devoção popular com quase 800 anos de tradição, pegou a Igreja de surpresa. O Vaticano informou que o Papa acrescentará mais cinco mistérios aos 15 atuais, mas não explicou como ficará a nova estrutura. A palavra mistérios significa nesse caso os episódios que se referem à vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, propostos à meditação dos fiéis. João Paulo II, de 82 anos, anunciará a mudança na recitação do Angelus, na Praça de São Pedro, ao meio-dia de amanhã, com a divulgação de uma carta apostólica (documento dirigido a todos os católicos), por ocasião da comemoração do 24º aniversário de seu pontificado. Karol Wojtyla, o papa polonês eleito em 1978, tem marcado toda a sua vida por uma grande devoção à Virgem Maria, à qual se consagrou com o lema Totus tuus (Todo teu), que consta de seu brazão. "Ainda não se sabe se os novos mistérios que João Paulo II proporá à meditação dos fiéis serão encaixados nos já existentes ou se constituirão mais um bloco", disse frei Luiz Carlos da Silva, prior do Convento dos Dominicanos, no bairro de Perdizes. Os frades dominicanos são uma espécie de guardiães do rosário, porque foi São Domingos de Guzmán, fundador de sua ordem, quem instituiu essa devoção, em 1205, após uma aparição da Virgem Maria. Se o papa acrescentar cinco itens para reflexão dos devotos, o rosário passará a ter 20 mistérios. Nesse caso, não se poderá mais falar em "terço" - o bloco de cinco mistérios que se costuma rezar - mas em "quarto", também de cinco mistérios, que corresponderia à quarta parte do nova estrutura. "Como o rosário é muito longo, a maioria dos fiéis o substituiu pela recitação do terço", explica frei Luiz Carlos. Cada bloco do rosário (ou do terço) consta de um pai-nosso e dez ave-marias, recitados após a meditação de um mistério ou episódio da vida de Cristo. Os mistérios são divididos em gozosos (nascimento e infância), dolorosos (paixão e morte) e gloriosos (ressurreição e ascensão aos céus), todos lembrando cenas bíblicas do Novo Testamento. Pelo que o Vaticano adiantou, os novos mistérios lembrarão episódios da vida pública de Jesus Cristo. Costuma-se iniciar o rosário com a recitação do credo (profissão de fé) e concluí-lo com uma salve-rainha. Para marcar as ave-marias, usa-se um colar de contas, mais conhecido como terço ou rosário. As contas são divididas em módulos de dez (para as ave-marias), que são separados por uma conta isolada (para o pai-nosso). O material para confecção do terço (ou rosário) varia de acordo com o gosto e as posses dos devotos. Há terços de ouro, prata e madrepérola, mas os mais comuns são feitos de plástico ou de sementes. Consta da tradição que, além de recomendar a São Domingos a recitação do rosário, Nossa Senhora voltou a insistir nessa devoção em outras aparições. Foi o que ocorreu em Fátima, em 1917, quando a Virgem se apresentou como Nossa Senhora do Rosário e, mais recentemente, em 1981, na cidade de Madjgorge, na ex-Iugoslávia. Vários papas reconheceram o rosário como instrumento de evangelização e santificação dos católicos. Ao anunciar a atualização do rosário, há duas semanas, João Paulo II disse que estava preparando um documento - a carta apostólica - para que os fiéis "redescubram a beleza e a profundidade dessa oração". O papa recomenda que o terço seja rezado em família, como sempre se fez na Igreja. No Brasil, é comum a recitação nas paróquias, geralmente fora dos horários de missas.

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