Papa pede perdão pelos "pecados" contra a Igreja Ortodoxa

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Um pedido de perdão de João Paulo II à Igreja Ortodoxa pelos "pecados" dos católicos aliviou a tensão que a expectativa de sua visita provocou na Grécia, onde ele permanecerá por pouco mais de 24 horas, numa peregrinação destinada a refazer os passos do apóstolo São Paulo, em sua viagem de Damasco para Roma, quase 20 séculos atrás. "Que o Senhor nos conceda o perdão pelas ocasiões passadas e presentes em que filhos e filhas da Igreja Católica pecaram, por ação ou omissão, contra seus irmãos e irmãs ortodoxos", implorou o papa, num encontro com o primaz Christodoulos, arcebispo ortodoxo de Atenas. Os dois conversaram e rezaram juntos durante pouco mais de 30 minutos. Fato desastroso Christodoulos aproveitou a oportunidade para lembrar a João Paulo II alguns desses pecados. Citou, por exemplo, o saque de Constantinopla pelos cruzados cristãos em 1204, "um fato desastroso" que contribuiria, três séculos depois, para a derrubada do Império Bizantino. A queda de Constantinopla - atual Istambul, na Turquia - é uma das grandes controvérsias que dificultam a reaproximação das duas igrejas. "É trágico que, em busca de livre acesso para os cristãos à Terra Santa, os atacantes se tenham voltado contra nossos irmãos na fé", lamentou João Paulo II, referindo-se ao episódio das Cruzadas, em sua chegada a Atenas. Mea-culpa Christodoulos aplaudiu essas palavras e, num discurso sóbrio, afirmou que, "embora não deva resolver todos os problemas, o mea-culpa do papa será o alicerce de um futuro comum entre católicos e ortodoxos". O arcebispo grego queixou-se, no entanto, do "proselitismo" exercido pelos católicos de rito oriental em regiões de maioria religiosa ortodoxa e lamentou que João Paulo II não tenha manifestado apoio "à ilha apostólica de Chipre, que há um quarto de século sofre bárbara divisão, vítima de uma cruel limpeza étnica". Era uma referência aos choques entre a população de origem grega (78%) e turca (18%), em território cipriota. Vivaldi No fim da tarde, João Paulo II visitou o Areópago, a colina em que São Paulo pregou o Evangelho aos gregos, no ano 50. Enquanto uma orquestra tocava músicas de Vivaldi, o papa subiu num palanque, com a ajuda de Christodoulos e do núncio apostólico em Atenas, monsenhor Paul Tabet, para ouvir a leitura de um texto sobre as origens e o futuro do cristianismo na Europa. João Paulo II encontrou-se também com o episcopado da Igreja Católica, uma comunidade de apenas 9 bispos, 91 padres e 53 mil fiéis entre mais de 10 milhões de ortodoxos. Na catedral de São Dionísio, o papa celebrou missa para 400 pessoas, que o receberam com flores e recitaram o Pai-Nosso com ele, na entrada do templo. Prisão O governo mobilizou 7 mil policiais para a segurança de João Paulo II. Um rapaz foi preso por ter jogado uma garrafa de água contra o cortejo, quando ele regressava do arcebispado ortodoxo, num carro blindado do presidente grego, Costis Stephanopoulos. O esquema policial impediu que as pessoas chegassem a menos de 150 menos do papa. João Paulo II segue neste sábado para Damasco, na Síria, onde se tornará o primeiro papa a entrar numa mesquita. "Esperamos que a visita chame a atenção do mundo para injustiça e a agressão à qual os palestinos são submetidos pelo sionismo", disse o líder muçulmano Armad Kuftaro. O papa visitará as Colinas de Golan, onde deverá fazer um apelo à paz no Oriente Médio. A última etapa da viagem será a Ilha de Malta, para onde o papa seguirá quarta-feira.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.