Papa se emociona nas Colinas de Golan

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Por Agencia Estado
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O papa João Paulo II emocionou-se hoje ao rezar pela paz no Oriente Médio nas ruínas de Kuneitra, nas Colinas de Golan, onde centenas de refugiados sírios que foram obrigados a abandonar suas casas, após a guerra árabe-israelense de 1967, voltaram à cidade para ouvi-lo. "Neste lugar tão desfigurado pela guerra, quero elevar minha voz numa prece pela paz na Terra Santa e no mundo", disse o papa, ajoelhado entre as paredes e altares que sobraram de um pequena igreja ortodoxa grega de São Jorge. João Paulo II, que fará 81 anos no próximo dia 18, permaneceu 20 minutos imóvel, concentrado em meditação, enquanto um vento gelado entrava pelo que restou das janelas do templo. Segundo a Síria, a igreja foi destruída por Israel em 1974, quando suas tropas se retiraram de Golan, em conseqüência de um acordo de cessar-fogo negociado pelos Estados Unidos. Embora tenha sido acusado por uma comissão da Organização das Nações Unidas de haver destruído deliberadamente a igreja, o governo de Israel afirma que ela caiu em conseqüência de tiroteios na luta pela posse de Kuneitra, durante quase oito anos de ocupação militar. Alheio a essa polêmica, João Paulo II pediu a Deus que ajude os povos do Oriente Médio a derrubar os muros de hostilidade e de divisão. "Que todos os crentes tenham a coragem de perdoar-se uns aos outros, para que possam curar-se das feridas do passado", disse o papa num apelo à reconciliação num cenário que os sírios conservam como "museu da agressão israelense" contra o seu povo. Milhares de antigos moradores de Kuneitra que hoje passaram o dia entre as ruínas de suas casas aplaudiram as palavras de João Paulo II. Em sua oração, o papa pronunciou 12 vezes a palavra paz, as três últimas em língua árabe - "salam, salam, salam". A emoção foi ainda maior quando, ainda ajoelhado, João Paulo II lembrou que muita gente continua morrendo nos territórios palestinos. "Também nos chegam notícias tristes do conflito e de morte em Gaza e, por isso, nossa oração torna-se ainda mais intensa", disse o papa, referindo-se a uma menina palestina de quatro meses que acabara de morrer durante um bombardeio israelense, em resposta a disparos de morteiros palestinos. Depois de abençoar a multidão, o papa caminhou entre os refugiados que o governo sírio transportou de ônibus até as ruínas de Kuneitra e apertou as mãos de alguns deles. Do alto das Colinas de Golan ainda sob ocupação, radares de Israel vasculhavam o horizonte. "Nós só queremos que os israelenses vão embora para podermos voltar para nossa terra", disse um dos antigos moradores do lugar, Shabaan Ramadan, de 65 anos, falando em nome de seus compatriotas. Em Damasco, João Paulo II visitou a Cidade Velha para rezar na capela de São Paulo. Segundo a tradição, a capela foi erguida no local de onde o apóstolo saltou de uma janela para fugir dos judeus que o perseguiram por haver pregado o Evangelho nas sinagogas. À tarde, o papa dedicou aos jovens as últimas horas de sua programação oficial na Síria. Ao reunir-se com cerca de 2 mil rapazes e moças na catedral católica de rito mesquita, ele lhes pediu que se comprometam com a defesa da paz e dos direitos humanos. "Queridos jovens, o futuro do cristianismo em vosso país depende da aproximação e da colaboração entre as igrejas e as comunidades eclesiais", afirmou o papa, salientando que a Síria "se caracteriza pela convivência entre todos os segmentos da sociedade". A Síria tem apenas 300 mil católicos numa população de cerca de 16 milhões de habitantes. João Paulo II segue nesta terça-feira para Malta, última etapa de uma viagem pastoral de seis dias, iniciada sexta-feira na Grécia.

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