Paquistão anuncia apoio a investigações em Mumbai

Islamabad enviará um oficial de inteligência para ajudar na busca dos culpados e tentar afastar insinuações de envolvimento nos atentados

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Por Redação
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O Paquistão planeja enviar à Índia nos próximos dias um dos chefes de sua agência de inteligência (ISI, na sigla em inglês) para cooperar com as investigações sobre a autoria dos atentados em Mumbai. Inicialmente, o escolhido para a missão havia sido Ahmed Shuja Pasha, que assumiu a chefia do órgão em setembro, depois de ter ocupado a função de diretor-geral das operações militares do Exército paquistanês. Entretanto, horas depois, Islamabad decidiu baixar o perfil da representação, sem indicar um novo nome e sem dar explicações sobre as razões que teriam levado à alteração súbita dos planos. INSINUAÇÕES Com isso, os paquistaneses esperam afastar de vez as suspeitas de que teriam participado dos atentados, como sugeriu o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, na quinta-feira, em pronunciamento à nação. Até agora, há pelo menos três paquistaneses entre os terroristas detidos pela Índia, o que levou o ministro das Relações Exteriores da Índia, Pranab Mukherjee, a declarar que "alguns elementos no Paquistão são responsáveis". Outro incidente que fez aumentar a desconfiança indiana foi a apreensão de dois barcos paquistaneses, supostamente envolvidos no desembarque dos terroristas em Mumbai na quarta-feira à noite. A viagem de um membro do ISI à Índia poderá evitar que grupos terroristas locais acabem jogando um governo contra o outro, valendo-se da rivalidade permanente entre indianos e paquistaneses que, desde 1947, já travaram três guerras, a última delas em 1971, e dividem uma fronteira tensa e militarizada na região da Caxemira. ACUSAÇÕES MÚTUAS O próprio serviço secreto paquistanês é suspeito de ter arquitetado um ataque contra o Parlamento indiano em 2001, além de apoiar grupos separatistas na Caxemira. O Paquistão, por sua vez, acusa a Índia de fazer o mesmo na Província do Baluquistão, na fronteira sul entre os dois países. Além disso, ambos os Estados disputam uma corrida nuclear nem sempre velada, que poderia, num grave cenário de crise, ter conseqüências imprevisíveis. "Esse é um passo extraordinário que indica duas coisas", disse Cyril Almeida, editor de um dos jornais mais influentes da Índia, o Dawn, publicado em língua inglesa. "Primeiro, os militares paquistaneses estão confiantes de que não serão reveladas ligações diretas (entre os terroristas e o governo do Paquistão). Segundo, com isso, o Paquistão pode evitar que se repita a situação de quase guerra que se seguiu aos ataques contra o Parlamento indiano, em 2001", disse. AMERICANOS Se for confirmada a hipótese de que o Paquistão esteve envolvido nos ataques em Mumbai, as conseqüências negativas serão sentidas não somente nas relações com a Índia, mas, principalmente, na confiança que os EUA ainda depositam no governo paquistanês como um de seus parceiros na luta contra o terrorismo. Há meses, os militares americanos intensificaram suas ações na montanhosa fronteira que divide o Paquistão do Afeganistão. Acredita-se que Osama bin Laden possa estar escondido ali, sob a proteção de centenas de combatentes da Al-Qaeda e do Taleban.

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