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Paquistão prende 300 sob estado de exceção, EUA revêem ajuda

Por SIMON CAMERON-MOORE E ZEESHAN HAIDER
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A polícia paquistanesa realizou centenas de prisões neste domingo, depois que o presidente Pervez Musharraf desafiou a pressão dos Estados Unidos e da oposição nacional impondo um estado de emergência. Washington disse que teria que rever sua ajuda financeira de bilhões de dólares ao Paquistão depois que Musharraf declarou o estado de emergência no sábado, frustrando as esperanças dos EUA de ver uma transição a uma democracia civil. "Obviamente, teremos de rever a situação da ajuda, em parte porque temos que ver o que poderá ser causado por certos estatutos", disse a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, que havia se manifestado contra o estado de exceção em dois telefonemas ao general Musharraf em 31 de outubro. Washington deu a Islamabad, um importante aliado no combate à Al Qaeda, cerca de 10 bilhões de dólares ao longo dos últimos cinco anos. O primeiro-ministro Shaukat Aziz disse que as eleições nacionais, marcadas para janeiro, poderão ser adiadas por "até um ano", mas se recusou a dizer quanto tempo o estado de emergência irá durar. Entre 300 e 500 pessoas foram presas, acrescentou ele. Musharraf, que assumiu o poder em um golpe de estado em 1999, disse que agiu em resposta ao aumento da militância islâmica no país e ao que ele chamou de paralisia do governo por causa da interferência do Judiciário. "Não posso permitir que esse país cometa suicídio", disse ele em seu pronunciamento ao país, depois de suspender a Constituição e expurgar a Suprema Corte dos juízes que se opunham a ele. A maior parte dos paquistaneses e diplomatas estrangeiros acredita que o principal motivo para decretar estado de emergência foi para impedir a Suprema Corte de invalidar a reeleição de Musharraf, em 6 de outubro, pelo Parlamento, quando ele ainda era o comandante do Exército. O juiz da Suprema Corte Iftikhar Chaudhry, que foi suspenso há oito meses por Musharraf e retomou suas funções em julho, foi exonerado depois de se recusar a realizar novo juramento depois da suspensão da Constituição. Um movimento de advogados que surgiu na vanguarda de uma campanha antigoverno em março está convocando uma greve nacional na segunda-feira para protestar contra as medidas de Musharraf. O político islâmico veterano Qazi Hussein Ahmed, líder da aliança religiosa de oposição, pediu que as pessoas tomem as ruas em protesto, para tirar o "ditador militar" do poder. Domingo foi um dia relativamente tranquilo e não havia soldados ou um grande número de policiais nas ruas das principais cidades. Barricadas bloqueavam uma das principais avenidas de Islamabad. "ESTAMOS ENGANANDO A NÓS MESMOS" Os jornais de língua inglesa do Paquistão criticaram ferozmente as medidas draconianas do governo, que incluem a proibição de cobertura na mídia "que difame, traga ao ridículo ou manche a reputação do chefe de Estado" sob a pena de três anos de prisão. O ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif acusou Musharraf de "manter a nação inteira como refém por seus motivos pessoais". Musharraf disse que pretende realizar a transição para uma democracia civil. Ele havia prometido sair do Exército e se tornar um líder civil, caso ganhasse as eleições para um segundo mandato de cinco anos. A segurança interna do Paquistão se deteriorou drasticamente em meses recentes, com uma onda de atentados suicidas, incluindo a tentativa de assassinato da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto no mês passado, que matou 139 pessoas. Em julho, Musharraf ordenou seus soldados a invadir a Mesquita Vermelha, em Islamabad, para reprimir o movimento do estilo do Taliban baseado no local. Pelo menos 105 pessoas foram mortas na operação, e uma onda de atentados militantes e bombas suicidas se seguiu, com mais de 800 mortos. Bhutto retornou ao Paquistão no sábado depois de uma breve viagem a Dubai e acusou Musharraf de impor uma "mini lei marcial", em uma iniciativa para atrasar as eleições "por pelo menos um ou dois anos". Outro líder de oposição, o ex-jogador de críquete Imran Khan, foi detido sob prisão domiciliar, mas escapou horas depois. (Reportagem adicional de Kamran Haider, Augustine Anthony e Simon Gardner em Islamabad, Ovais Subhani em Karachi e redações da Reuters em Washington, Londres e Jerusalém)

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