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Venezuela tem 'mais a ganhar do que a perder’ com referendo contra Maduro, diz Almagro

Em entrevista, secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA) afirma que lista de alterações à democracia no país é ‘grande demais’ para que possam ‘continuar fazendo parte da neutralidade moral’ do continente

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O governo venezuelano tem "muito mais a ganhar do que a perder" com a realização de um referendo revogatório neste ano e a libertação de "presos políticos", afirmou Luis Almagro, secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), em entrevista à agência de notícias France Presse (AFP).

À espera da convocação de uma sessão especial do Conselho Permanente da OEA sobre a Venezuela, solicitada por ele próprio, Almagro disse que a lista de alterações à democracia no país é "grande demais" para que "alegremente possam continuar fazendo parte da neutralidade moral do nosso continente".

Para dissidentes venezuelanos, fato de Carta Democrática ter sido invocada por Almagro, um 'homem de esquerda', prova que governo Maduro é totalitário Foto: AFP PHOTO / MARVIN RECINOS

AFP: O senhor invocou a Carta Democrática Interamericana na semana passada. Países se somaram ao seu posicionamento?

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Almagro: Sim, e isto não necessariamente tem que se traduzir em votos.

Como o senhor espera que o governo venezuelano ceda para realizar o revogatório ou libertar os políticos da prisão?

O governo tem muito mais a ganhar com a implementação destas soluções do que a perder. É diferente como vai se posicionar frente à sua própria sociedade, às soluções que pode dar para os temas como a crise humanitária e a falta de alimentos e medicamentos para as pessoas, e às soluções que pode conseguir no combate à corrupção.

Que final lhe agradaria no diálogo entre governo e oposição?

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O referendo revogatório - a grande saída política que a Venezuela tem - para este ano é um objetivo que tem que ser alcançado. Como a Venezuela pode chegar a uma situação em que já não terá mais presos, nem detidos políticos (...), como conseguirá a independência de seu Poder Judiciário, que as leis que a Assembleia Nacional (opositora) tenham a vigência jurídica, como conseguirá sair da crise humanitária… Isto, hoje, é uma responsabilidade do governo porque há uma lista grande demais de alterações da ordem constitucional para que, alegremente, possam continuar fazendo parte da neutralidade moral do nosso continente. Temos que assumi-los como problemas e insistir em soluções completas a respeito.

Como o senhor avalia a declaração do Conselho Permanente a favor de um "diálogo aberto" na Venezuela?

É um avanço em muitos sentidos. Primeiro, abordou-se o tema na Venezuela depois de tanto tempo e com base em um projeto de declaração realizada por outros países. À sua maneira, e muito diplomaticamente, deixou-se aberto o caminho da aplicação da Carta e tem sido dada ênfase no fortalecimento dos procedimentos constitucionais, leia-se referendo revogatório, que devem ser respeitados pela Venezuela (...). Devemos pensar que o copo vai enchendo.

E a iniciativa de diálogo iniciada pela Unasul?

A chave está em algo que se chama pré-diálogo, que definitivamente não decolou.

O que diz a quem critica seu tom e posicionamento diante da Venezuela?

Não é um agir individual, é um agir absolutamente constitucional (....). Estou seguindo um compromisso que os países me pediram para assumir quando chegasse o momento.

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O senhor se sente apoiado?

Sim. Estamos recebendo cada vez mais apoio à nossa atitude e à nossa forma de gerenciar estes valores fundamentais.

Se o Conselho Permanente decidir que não há "alterações da ordem democrática na Venezuela", seria uma derrota para o senhor?

O nosso objetivo não é uma vitória conjuntural em função de uma circunstância de votos, é resolver estes temas.

Mas o senhor acredita que sua secretaria-geral está em questão?

Isto não me importa nem um pouco. Não me interessa. Se eu tivesse que olhar para o cargo e ver como me aferrar à cadeira para ver que princípio defendo e que princípio não defendo, se vejo com que país me meto e com que país não me meto, então meu papel seria totalmente indigno.

O senhor renunciaria se perdesse esta votação?

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Se eu renunciar, vou deixar muita gente pelo caminho, muitos direitos ficam jogados hoje, não tenho margem para isto. Para defender as pessoas, tenho que assumir que posso perder várias vezes.

A Carta Democrática implica, em caso extremo, na suspensão da Venezuela da OEA. Há este desejo?

Ninguém deseja isto, eu também não. /AFP

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